La Niña Santa (3,3)
( Argentina/Itália/Holanda/Espanha – 2004 – 106min )
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP Lucrecia Martel mostra aqui uma boa mão na direção, principalmente pelos ângulos escolhidos, que quase nunca mostram tudo, seja pessoas ou ambientes.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP O roteiro tem seus pontos fortes, mas a matéria primordial é fraca e arrastada: conta sobre uma garota que vive num hotel, levando uma vida religiosa acreditando e exercendo os preceitos do catolicismo fervoroso. Num encontro casual, na rua, um homem a "toca". Por coincidência este é um médico presente numa convenção no mesmo hotel onde a garota, sua mãe e suas amigas vivem, num regime de quase internato.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP O cinema latino como um todo é muito afeito ao tema das casualidades, e com este não é diferente, tanto em coincidências, como em sinais dessas casualidades. Em La Niña Santa, inclusive, usa-se a questão dos sinais divinos para metaforizar os sinais do destino.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP O argumento, no entanto, coloca espectativas, preparando quem assiste para um desfecho conclusivo, que não chega. É o que se chama de anticlímax. Essa aparente não-conclusão pode desestimular o espectador, mas isso só vem para provar que o importante não está no seu fim, mas nos seus meios.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSPSua história passa longe de ser divertida, mas retrata um mundo em que as pessoas agem segundo coincidências, ignorando possíveis destinos pre-marcados.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP É um filme de contradições, que fala sobre tabus, sobre a perda da inocência e o valor dela confrontado com a religiosidade, sem, no entanto, julgar a religião. Como as pessoas podem ser tão devotas e mesmo assim ter seus vícios, cometer seus pecados, ao invés de evitá-los? Essa a grande questão (implícita) do filme.
&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP&NBSP É o cinema latino ganhando espaço na mídia (o filme estava na mostra competitiva de Cannes este ano), mas ainda devendo em qualidade.
terça-feira, 26 de outubro de 2004
Os Sonhadores (4,7)
(The Dreamers – Itália/França/Reino Unido/EUA – 2003 – 115min )
      É sempre difícil falar de um diretor aclamado e de sua obra. Para aqueles que não conhecem Bernardo Bertolucci, este é um diretor para se conhecer e, de preferência, a fundo.
      Esta sua obra situa o telespectador em sua época, os conturbados anos 60 franceses.
      Ao som de Dylan, Janis, Hendrix e Doors, Matthew, um jovem americano estudante de francês e cinéfilo absoluto, freqüentando um famoso cinema francês, conhece os irmãos Theo e Isabelle, também viciados na arte. Os irmãos têm comportamento estranho e logo percebe-se que eles mantém uma ligação igualmente estranha. Pelo amor ensandecido ao cinema, os dois admitem Matthew como a um irmão (à maneira deles). A relação dos três fica na linha que divide a loucura do amor. Tudo isso numa época de censura, na França das revoluções, das posições e ideologias políticas.
      Os atores estão muito bem, especialmente Michael Pitt e a garota, (Eva Green) que não é veterana no cinema, mas tem tudo para ser. Eles interpretam pessoas, não personagens. A quantidade de nus dos atores não é um excesso, só contribui para uma maior realidade destes tempos liberais e revolucionários.
      Mesmo com um estilo visual muito plástico (até bem pop), há a confissão da paixão pelo "bom filme", mesclando um cinema vendável com as características de um cult.
      A direção, como não podia deixar de ser dá um show, principalmente em planos simples e longos, lembrando o cinema dos anos 30, principal referência do filme. É um filme em que o público geral se diverte, mas os cinéfilos se deleitam mais.
      É um entretenimento adulto, cabeça, político, mas muito, muito divertido.
(The Dreamers – Itália/França/Reino Unido/EUA – 2003 – 115min )
      É sempre difícil falar de um diretor aclamado e de sua obra. Para aqueles que não conhecem Bernardo Bertolucci, este é um diretor para se conhecer e, de preferência, a fundo.
      Esta sua obra situa o telespectador em sua época, os conturbados anos 60 franceses.
      Ao som de Dylan, Janis, Hendrix e Doors, Matthew, um jovem americano estudante de francês e cinéfilo absoluto, freqüentando um famoso cinema francês, conhece os irmãos Theo e Isabelle, também viciados na arte. Os irmãos têm comportamento estranho e logo percebe-se que eles mantém uma ligação igualmente estranha. Pelo amor ensandecido ao cinema, os dois admitem Matthew como a um irmão (à maneira deles). A relação dos três fica na linha que divide a loucura do amor. Tudo isso numa época de censura, na França das revoluções, das posições e ideologias políticas.
      Os atores estão muito bem, especialmente Michael Pitt e a garota, (Eva Green) que não é veterana no cinema, mas tem tudo para ser. Eles interpretam pessoas, não personagens. A quantidade de nus dos atores não é um excesso, só contribui para uma maior realidade destes tempos liberais e revolucionários.
      Mesmo com um estilo visual muito plástico (até bem pop), há a confissão da paixão pelo "bom filme", mesclando um cinema vendável com as características de um cult.
      A direção, como não podia deixar de ser dá um show, principalmente em planos simples e longos, lembrando o cinema dos anos 30, principal referência do filme. É um filme em que o público geral se diverte, mas os cinéfilos se deleitam mais.
      É um entretenimento adulto, cabeça, político, mas muito, muito divertido.
A Vida É Um Milagre (4,4)
(Zivot Je Cudo – IUG/FRA – 2004 – 155min)
      Emir Kusturica é tão famoso diretor quanto compositor musical. Seu mais recente filme trata novamente de questões políticas, já que ele vive num país tão conturbado como a Iugoslávia.
      A história, como o filme, é extensa, mas não complexa: jovem e promissor jogador de futebol é enviado à guerra da Iugoslávia e sua família se desestrutura – a mãe excêntrica vai ficando louca de vez e foge de casa com um músico na festa de despedida de seu filho, o pai, engenheiro que passa a vida planejando a finalização da pequena ferrovia que passa pela Bósnia e pela Hungria, fica só em casa. Aí mora o problema. A casa, à beira da ferrovia, fica no caminho de um país a outro. Tempos depois, o pai recebe a notícia que seu filho foi tomado como prisioneiro em mãos inimigas. É trazida a sua casa, então, uma bela "inimiga", que servirá de refém para a futura negociação. A partir da relação etre estes dois Kusturica traça um bonito perfil da relação humana, discutindo a razão da guerra de maneira leve e divertida, mas recheada de metáforas valiosas, como a do burro, que empaca na linha do trem por querer se matar já que tem um amor impossível. Muitas lições podem ser extraídas, inclusive da trilha sonora, especialidade da casa.
      Uma obra comovente, que não tem uma missão de paz, mas sim a esperança de fazer ver o que diz seu título.
(Zivot Je Cudo – IUG/FRA – 2004 – 155min)
      Emir Kusturica é tão famoso diretor quanto compositor musical. Seu mais recente filme trata novamente de questões políticas, já que ele vive num país tão conturbado como a Iugoslávia.
      A história, como o filme, é extensa, mas não complexa: jovem e promissor jogador de futebol é enviado à guerra da Iugoslávia e sua família se desestrutura – a mãe excêntrica vai ficando louca de vez e foge de casa com um músico na festa de despedida de seu filho, o pai, engenheiro que passa a vida planejando a finalização da pequena ferrovia que passa pela Bósnia e pela Hungria, fica só em casa. Aí mora o problema. A casa, à beira da ferrovia, fica no caminho de um país a outro. Tempos depois, o pai recebe a notícia que seu filho foi tomado como prisioneiro em mãos inimigas. É trazida a sua casa, então, uma bela "inimiga", que servirá de refém para a futura negociação. A partir da relação etre estes dois Kusturica traça um bonito perfil da relação humana, discutindo a razão da guerra de maneira leve e divertida, mas recheada de metáforas valiosas, como a do burro, que empaca na linha do trem por querer se matar já que tem um amor impossível. Muitas lições podem ser extraídas, inclusive da trilha sonora, especialidade da casa.
      Uma obra comovente, que não tem uma missão de paz, mas sim a esperança de fazer ver o que diz seu título.
Herança (1,9)
(Arven – Dinamarca/Suécia/Noruega/Inglaterra – 2003 – 115min )
      Quando começa fraco, significa que vai ser bom. Assim começou, pra mim, a Mostra.
      Herança é um filme dinamarquês que quase não tem atrativos, fora o fato de ser dinamarquês.
      Um gerente de restaurante casado com uma simpática atriz e esposa dedicada herda uma metalúrgica do pai, que se enforcou. O filho é convocado pela mãe para assumir a direção da companhia e encontra uma crise financeira que o força a demitir funcionários antigos e a vender parte da empresa. Dedicando-se muito ao emprego, perde a mulher e vislumbra uma falta de sentido em sua vida. O importante da trama, que lembra de longe A Firma, de Sydney Pollack, é essa reflexão do valor do dinheiro versus os verdadeiros valores da vida; trama essa que fica escondida sob o conflito do "workaholic" com a mulher apaixonada mas esgotada pela ausência do marido.
      O roteiro faz notar a que ponto pode chegar um ser humano que usa muito o recente mantra "eu estou pagando" para justificar qualquer permissividade no mundo. As duas estrelas vai para esse mesmo roteiro, porque tecnicamente não há nada que prenda a atenção. O que redime um pouco sua situação é a atuação de Ulrich Thomsen, que consegue fazer com que o espectador odeie seu personagem. E só. Duas horas devagar.
      E quanto a ser da Dinamarca, Lars von Trier, influência técnica deste diretor, já fez muito mais com histórias mais simples.
(Arven – Dinamarca/Suécia/Noruega/Inglaterra – 2003 – 115min )
      Quando começa fraco, significa que vai ser bom. Assim começou, pra mim, a Mostra.
      Herança é um filme dinamarquês que quase não tem atrativos, fora o fato de ser dinamarquês.
      Um gerente de restaurante casado com uma simpática atriz e esposa dedicada herda uma metalúrgica do pai, que se enforcou. O filho é convocado pela mãe para assumir a direção da companhia e encontra uma crise financeira que o força a demitir funcionários antigos e a vender parte da empresa. Dedicando-se muito ao emprego, perde a mulher e vislumbra uma falta de sentido em sua vida. O importante da trama, que lembra de longe A Firma, de Sydney Pollack, é essa reflexão do valor do dinheiro versus os verdadeiros valores da vida; trama essa que fica escondida sob o conflito do "workaholic" com a mulher apaixonada mas esgotada pela ausência do marido.
      O roteiro faz notar a que ponto pode chegar um ser humano que usa muito o recente mantra "eu estou pagando" para justificar qualquer permissividade no mundo. As duas estrelas vai para esse mesmo roteiro, porque tecnicamente não há nada que prenda a atenção. O que redime um pouco sua situação é a atuação de Ulrich Thomsen, que consegue fazer com que o espectador odeie seu personagem. E só. Duas horas devagar.
      E quanto a ser da Dinamarca, Lars von Trier, influência técnica deste diretor, já fez muito mais com histórias mais simples.
sábado, 23 de outubro de 2004
Fun 3
Amanhã começa oficialmente a 28ª Mostra BR de Cinema. Hoje, quinta (20/10), tem uma festinha para convidados; e eu, que odeio ficar de fora numa festinha, criei a minha junto com a Natália. Não, calma, não é isso! Fomos assistir a A Festa Nunca Termina, de Michael Winterbottom.
É um filme engraçado e interessantíssimo porque conta a história do começo do cenário rock-new wave de Manchester (UK) em narrativa, com atores interpretando os personagens reais. Na verdade não conta a história das bandas, mas mostra um panorama da época - 1975 a mais ou menos 1985 - pela visão do visionário (leia-se doido) jornalista e produtor-empresário Tony Winston.
Sex Pistols, Buzzcocks, Mick Hucknall (o ruivo do Simply Red) e em especial a história do Joy Division, New Order e The Happy Mondays estão lá. Muito instrutivo e bastante divertido, principalmente pra quem gosta de música.
Foi uma sessão de retrospectiva (o filme é de 2002), gratuita, no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. Nada melhor do que uma festinha (nem que seja bem particular) para celebrar a abertura do...
Amanhã começa oficialmente a 28ª Mostra BR de Cinema. Hoje, quinta (20/10), tem uma festinha para convidados; e eu, que odeio ficar de fora numa festinha, criei a minha junto com a Natália. Não, calma, não é isso! Fomos assistir a A Festa Nunca Termina, de Michael Winterbottom.
É um filme engraçado e interessantíssimo porque conta a história do começo do cenário rock-new wave de Manchester (UK) em narrativa, com atores interpretando os personagens reais. Na verdade não conta a história das bandas, mas mostra um panorama da época - 1975 a mais ou menos 1985 - pela visão do visionário (leia-se doido) jornalista e produtor-empresário Tony Winston.
Sex Pistols, Buzzcocks, Mick Hucknall (o ruivo do Simply Red) e em especial a história do Joy Division, New Order e The Happy Mondays estão lá. Muito instrutivo e bastante divertido, principalmente pra quem gosta de música.
Foi uma sessão de retrospectiva (o filme é de 2002), gratuita, no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. Nada melhor do que uma festinha (nem que seja bem particular) para celebrar a abertura do...
Fun 1
Assistir aos programas de decoração que viraram febre recentemente pode fazer uma pessoa apreciar melhor a arte da decoração, paisagismo e jardinagem. Foi isso que ajudou a Nati a me convencer a acompanhá-la ao Casa Cor 2004, a reconhecida exposição anual promovida pela revista de mesmo nome. Trata-se de uma imensa casa, com muitos, mas muitos cômodos mesmo, cada um decorado por um profissional ou uma dupla. Vários tipos de quartos (masculino, feminino, do casal, da senhora, até do enteado!), banheiros, cozinha, uma garagem, halls, closets, bares, escadarias, corredores, piscinas e, claro, muitas pessoas. Algumas de alta casta, outras nem tanto. Lá dentro, restaurante, lanchonete, lojas de doces, livraria, lojas de decoração...
A exposição é bem completa, mas não muito organizada. Coisas genias e coisas cafonas, misturadas. A "casa da árvore", instalada numa árvore ao lado da casa, era um xodó. Quase tudo muito bonito e com algum valor cultural também. Valeu os quinze reais (com carteirinha de estudante) da entrada. Só o estacionamento enlameado é que não nos convenceu a gastar mais quinze reais (!!). Com certeza o público-alvo não são as classes abaixo de B.
Gostei muito de um bar com tonalidades em roxo, e um jogo de espelhos que engana: quando você está olhando pra ele, tem a visão do seu perfil, como se fosse alguém te olhando. Gostei de uma cozinha rodeada de objetos metálicos e balcões escuros (não gosto de cozinha branquinha - eu sujo muito!) e com algumas caixas de acrílico ou vidro em roxo e verde com conservas dentro. Também adorei a hidromassagem instalada numa plataforma, um piso aquecido de azulejos. Nada mais dessa história de sair do banho quentinho e "pisar no gelado", como diria minha vó.
Um programa diferente e cansativo (andamos quatro horas pra ver tudo), mas gostoso.
Assistir aos programas de decoração que viraram febre recentemente pode fazer uma pessoa apreciar melhor a arte da decoração, paisagismo e jardinagem. Foi isso que ajudou a Nati a me convencer a acompanhá-la ao Casa Cor 2004, a reconhecida exposição anual promovida pela revista de mesmo nome. Trata-se de uma imensa casa, com muitos, mas muitos cômodos mesmo, cada um decorado por um profissional ou uma dupla. Vários tipos de quartos (masculino, feminino, do casal, da senhora, até do enteado!), banheiros, cozinha, uma garagem, halls, closets, bares, escadarias, corredores, piscinas e, claro, muitas pessoas. Algumas de alta casta, outras nem tanto. Lá dentro, restaurante, lanchonete, lojas de doces, livraria, lojas de decoração...
A exposição é bem completa, mas não muito organizada. Coisas genias e coisas cafonas, misturadas. A "casa da árvore", instalada numa árvore ao lado da casa, era um xodó. Quase tudo muito bonito e com algum valor cultural também. Valeu os quinze reais (com carteirinha de estudante) da entrada. Só o estacionamento enlameado é que não nos convenceu a gastar mais quinze reais (!!). Com certeza o público-alvo não são as classes abaixo de B.
Gostei muito de um bar com tonalidades em roxo, e um jogo de espelhos que engana: quando você está olhando pra ele, tem a visão do seu perfil, como se fosse alguém te olhando. Gostei de uma cozinha rodeada de objetos metálicos e balcões escuros (não gosto de cozinha branquinha - eu sujo muito!) e com algumas caixas de acrílico ou vidro em roxo e verde com conservas dentro. Também adorei a hidromassagem instalada numa plataforma, um piso aquecido de azulejos. Nada mais dessa história de sair do banho quentinho e "pisar no gelado", como diria minha vó.
Um programa diferente e cansativo (andamos quatro horas pra ver tudo), mas gostoso.
Fun 2(a)
Abriram às 16h. Cheguei sete, sete e meia.
Renato Cohen, Brazil, tentava levantar o parco público, do pequeno palco. Começou fraco, melhorou quando terminava sua hora de techno.
Propagandinhas e James Holroyd, England, fraco. Acid house e electro à la gay guys, mas percebeu tarde que macaco quer banana (ênfase na batida = techno = brazileiro pulando)
Justin Robertson, que já mixou Björk, Placebo, Prodigy e produziu stuffs da atração principal da noite. Fukin' Gad! Techno além do que os meros mortais imaginariam. Um pouco de electro com techno também. Chegou bem, mandou pau, saiu ovacionado. Coisa pra se estudar e ir atrás. Isso tudo só com 3 pick-ups e seu box. Sem synths, PCs, sequencers... Gênio!
E os donos do show: The Chemical Bros.
O que dizer? Agitado? Explosivo? Emocionante? Barulhento? Extasiante? Sim!! E muito de tudo isso! Abriram com "Hey Boy, Hey Girl" e logo acabaram com a parte burocrática de tocar os hits, com "Block Rockin' Beats". Delírio puro. Milhares pulando na pista de madeira sobre o gramado. Não adianta relutar, pular junto é inevitável no bloco unívoco. Show de luzes nas suas mais de 30 toneladas de equipamento. Som potente, muita maconha por tabela, cerveja três reais cobrados erradamente. "Star Guitar" psy emociona, faz pessoas chorarem, algumas se abraçam, outras abraçam os abraçantes e mais e vira uma bola de gente abraçada pulando no refrão. Várias tentativas de pirâmide de povo. Susto na volta de cada paradinha da "Private Psychedelic Reel", coisa que só funciona ao vivo. Som alto pra valer. Chegaram para comover, para ensurdecer. Menos os dois megahits, nenhuma foi idêntica a qualquer CD. Sem trocar uma palavra com o público, disseram tudo que precisavam só correndo entre os equipamentos, fazendo a galera dançar.
E, caralho, valeu cada centavo.
Abriram às 16h. Cheguei sete, sete e meia.
Renato Cohen, Brazil, tentava levantar o parco público, do pequeno palco. Começou fraco, melhorou quando terminava sua hora de techno.
Propagandinhas e James Holroyd, England, fraco. Acid house e electro à la gay guys, mas percebeu tarde que macaco quer banana (ênfase na batida = techno = brazileiro pulando)
Justin Robertson, que já mixou Björk, Placebo, Prodigy e produziu stuffs da atração principal da noite. Fukin' Gad! Techno além do que os meros mortais imaginariam. Um pouco de electro com techno também. Chegou bem, mandou pau, saiu ovacionado. Coisa pra se estudar e ir atrás. Isso tudo só com 3 pick-ups e seu box. Sem synths, PCs, sequencers... Gênio!
E os donos do show: The Chemical Bros.
O que dizer? Agitado? Explosivo? Emocionante? Barulhento? Extasiante? Sim!! E muito de tudo isso! Abriram com "Hey Boy, Hey Girl" e logo acabaram com a parte burocrática de tocar os hits, com "Block Rockin' Beats". Delírio puro. Milhares pulando na pista de madeira sobre o gramado. Não adianta relutar, pular junto é inevitável no bloco unívoco. Show de luzes nas suas mais de 30 toneladas de equipamento. Som potente, muita maconha por tabela, cerveja três reais cobrados erradamente. "Star Guitar" psy emociona, faz pessoas chorarem, algumas se abraçam, outras abraçam os abraçantes e mais e vira uma bola de gente abraçada pulando no refrão. Várias tentativas de pirâmide de povo. Susto na volta de cada paradinha da "Private Psychedelic Reel", coisa que só funciona ao vivo. Som alto pra valer. Chegaram para comover, para ensurdecer. Menos os dois megahits, nenhuma foi idêntica a qualquer CD. Sem trocar uma palavra com o público, disseram tudo que precisavam só correndo entre os equipamentos, fazendo a galera dançar.
E, caralho, valeu cada centavo.
terça-feira, 19 de outubro de 2004
segunda-feira, 4 de outubro de 2004
Cinema da Retomada - 10 anos
Mil novecentos e noventa e quatro. Collor acabara de fazer um estrago com a economia do país e, conseqüentemente, pora em cheque os valores de necessidade da arte quando em frente a uma crise econômica. Estagnação, improdutividade, frustração artística. Foi quando a atriz Carla Camurati conseguiu, a passos de formiga, concluir seu projeto de longa data. O resultado, Carlota Joaquina, não foi um filme, foi sim um marco. Um marco para o cinema brasileiro e o início do que se caracterizou como um movimento: o Cinema da Retomada.
Vagarosamente, dificuldade após dificuldade e com muito custo, o Brasil voltou a ter um ou outro filme produzido. Com ajuda de miúdas verbas variadas - já que quase ninguém quer investir em algo que não dê retorno imediato (e em tempos de crise o povo não vai ao cinema) - o Brasil começou a caminhar na busca de um cinema de qualidade e que desse público. Este ainda não era definido. Menino Maluquinho, da obra de Ziraldo, buscava a massa infantil, mas não chegou a causar impacto financeiro. Entretanto, já nesse momento se definia a principal qualidade do cinema do país: a humanização, a arte como forma de expressão humana, como retratação de mundos possíveis dentro da nossa realidade técnica.
A produção nacional precisava das verbas internacionais. Assim foi feito O Quatrilho, indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Era o cinema de poucos, para poucos.
A economia teve aparente estabilização e o entretenimento de massas novamente retomava a sua vez. A alavanca que abriu a porta encerrada, veio a seguir, com a indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de O que é isso, companheiro?. Naquele ponto, filmes de menor nome na mídia já era produzidos por aqui. Quantidade com qualidade, mas ainda não o tipo de qualidade que as grandes indústrias do cinema (as distribuidoras) querem. Portanto, obras como A Ostra e Vento, Ação Entre Amigos, Ed Mort, Os Matadores, O Homem Nu, Quem Matou Pixote, Como Nascem os Anjos, A Festa de Margarette, Traição, Tieta do Agreste, Terra Estrangeira não chegaram a ter grande repercussão.
Duas indicações ao prêmio mais pop do cinema foram suficientes para fazer o grande público acreditar na qualidade do filme nacional. Aparecem para o mundo Walter Salles e Fernanda Montenegro. De direção, atuação e fotografia eficazes, forma-se assim o que viria a ser a tradição técnica das produções nacionais. É o novo "cinema novo" tomando forma.
Daí pra frente, muito bem, obrigado. Roteiros inteligentes culminando em bons filmes (ou simplesmente filmes divertidos). Tolerância, O Invasor, O Homem Que Copiava, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Amores Possíveis, O Auto da Compadecida, Houve Uma Vez Dois Verões, Pequeno Dicionário Amoroso, A Partilha, os estouros de Abril Despedaçado, Bicho de Sete Cabeças, Eu, Tu, Eles, Carandiru e Cidade de Deus e os recentes Madame Satã, Lisbela e o Prisioneiro, Narradores de Javé, Cazuza e Olga, dentre muitos, muitos outros, menores mas de qualidade como O Caminho das Nuvens, sem sequer mencionar os religiosos, os infantis e os documentários.
Claro, sempre poderia ser melhor. Muito se discute sobre a partição entre cinema de qualidade e cinema de bilheteria, para atender a dois tipos de público distintos. Isto, que parece existir em qualquer lugar, era o mínimo a se esperar, já que no Brasil, tão plural de culturas e meios sociais, poderia se pensar em mais de meros dois tipos de público. Acima disso fica o fato de termos dois tipos de público para presenciar a evolução do cinema desde sua estagnação, uma realidade que parecia impossível dez anos atrás.
Mil novecentos e noventa e quatro. Collor acabara de fazer um estrago com a economia do país e, conseqüentemente, pora em cheque os valores de necessidade da arte quando em frente a uma crise econômica. Estagnação, improdutividade, frustração artística. Foi quando a atriz Carla Camurati conseguiu, a passos de formiga, concluir seu projeto de longa data. O resultado, Carlota Joaquina, não foi um filme, foi sim um marco. Um marco para o cinema brasileiro e o início do que se caracterizou como um movimento: o Cinema da Retomada.
Vagarosamente, dificuldade após dificuldade e com muito custo, o Brasil voltou a ter um ou outro filme produzido. Com ajuda de miúdas verbas variadas - já que quase ninguém quer investir em algo que não dê retorno imediato (e em tempos de crise o povo não vai ao cinema) - o Brasil começou a caminhar na busca de um cinema de qualidade e que desse público. Este ainda não era definido. Menino Maluquinho, da obra de Ziraldo, buscava a massa infantil, mas não chegou a causar impacto financeiro. Entretanto, já nesse momento se definia a principal qualidade do cinema do país: a humanização, a arte como forma de expressão humana, como retratação de mundos possíveis dentro da nossa realidade técnica.
A produção nacional precisava das verbas internacionais. Assim foi feito O Quatrilho, indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Era o cinema de poucos, para poucos.
A economia teve aparente estabilização e o entretenimento de massas novamente retomava a sua vez. A alavanca que abriu a porta encerrada, veio a seguir, com a indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de O que é isso, companheiro?. Naquele ponto, filmes de menor nome na mídia já era produzidos por aqui. Quantidade com qualidade, mas ainda não o tipo de qualidade que as grandes indústrias do cinema (as distribuidoras) querem. Portanto, obras como A Ostra e Vento, Ação Entre Amigos, Ed Mort, Os Matadores, O Homem Nu, Quem Matou Pixote, Como Nascem os Anjos, A Festa de Margarette, Traição, Tieta do Agreste, Terra Estrangeira não chegaram a ter grande repercussão.
Duas indicações ao prêmio mais pop do cinema foram suficientes para fazer o grande público acreditar na qualidade do filme nacional. Aparecem para o mundo Walter Salles e Fernanda Montenegro. De direção, atuação e fotografia eficazes, forma-se assim o que viria a ser a tradição técnica das produções nacionais. É o novo "cinema novo" tomando forma.
Daí pra frente, muito bem, obrigado. Roteiros inteligentes culminando em bons filmes (ou simplesmente filmes divertidos). Tolerância, O Invasor, O Homem Que Copiava, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Amores Possíveis, O Auto da Compadecida, Houve Uma Vez Dois Verões, Pequeno Dicionário Amoroso, A Partilha, os estouros de Abril Despedaçado, Bicho de Sete Cabeças, Eu, Tu, Eles, Carandiru e Cidade de Deus e os recentes Madame Satã, Lisbela e o Prisioneiro, Narradores de Javé, Cazuza e Olga, dentre muitos, muitos outros, menores mas de qualidade como O Caminho das Nuvens, sem sequer mencionar os religiosos, os infantis e os documentários.
Claro, sempre poderia ser melhor. Muito se discute sobre a partição entre cinema de qualidade e cinema de bilheteria, para atender a dois tipos de público distintos. Isto, que parece existir em qualquer lugar, era o mínimo a se esperar, já que no Brasil, tão plural de culturas e meios sociais, poderia se pensar em mais de meros dois tipos de público. Acima disso fica o fato de termos dois tipos de público para presenciar a evolução do cinema desde sua estagnação, uma realidade que parecia impossível dez anos atrás.
Eis aqui uma música pela qual estou recentemente apaixonado. Posto aqui pra celebrar a minha primeira ida de carro até a casa do meu amor. :)
Minha flor, meu bebê
(Cazuza / Dé)
Dizem que eu tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
Em me fingir de burro
Pra você sobressair
Dizem que eu tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais do que se tem pra receber
E é por isso que eu chamo
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Dizem que eu tô louco
E falam por meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer,
Que a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer?
E é por isso que eu chamo
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
(Cazuza / Dé)
Dizem que eu tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
Em me fingir de burro
Pra você sobressair
Dizem que eu tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais do que se tem pra receber
E é por isso que eu chamo
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Dizem que eu tô louco
E falam por meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer,
Que a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer?
E é por isso que eu chamo
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê
Minha flor, meu bebê