segunda-feira, 26 de março de 2007

O paradoxo do moderno (uma dissertação pessoal)

Foi uma semana incomum. Analisando agora, depois de tudo, parece que os eventos todos gritavam algo de errado, que a vida não está certa. Não, talvez não a minha mas o nosso modo de viver, dito moderno. Assim, a minha trajetória com seus erros podem ser só um fragmento no todo, errado, que tem sido a sociedade moderna contemporânea.

No sábado passado, fomos em busca de uma peça de teatro de conteúdo sexual que fosse não exatamente excitante, mas incitante. Assistimos a A casa dos budas ditosos, com Fernanda Torres. Já havíamos ouvido falar bem da peça e que gostaríamos. Gostamos, de fato. Mas da forma como as situações e opiniões foram postas era mais cômico que excitante - ou incitante, a pseudo-real intenção da peça. Saímos contentes do teatro, mas não conseguimos o que queríamos. E esse foi só o começo.

Na quarta à noite, a segunda metade da aula da Licenciatura foi abandonada para assistir ao polêmico A filosofia na alcova, baseado na obra de Sade. Foi polêmico além do suportável. O explícito saía do recôndito da mente para ser encenado ali, ao vivo, aos olhos das mentes de todos. Foi, de certa forma cômico, e bastante inverossímil pelo exagero. Chocados - e chocado também por ter ficado assim -, saímos mais uma vez insatisfeitos, de certa forma até com alguma repulsa, com o querer não alcançado.

Nesse fragmento que é minha vida, dois episódios ainda contribuem para vermos o que pode estar errado: um sonho de banda de que não posso participar por causa da faculdade (que parece não ter fim); e um grosso estúpido que ficou putinho por ter sua consulta médica atrasada (mesmo tendo sido atendido antes de todos que já estavam esperando e antes do que deveria, exatamente, por ter sido sem educação). Já aí percebo o colapso dos valores da sociedade.

Vivemos a vida moderna que nos foi prometida como resultado de um progresso, mas que só nos faz eternamente insatisfeitos. A acomodação atrapalha a conquistar os feitos de que precisamos para nos tornarmos contentes com a nossa situação. Mas a busca, que se torna a eliminação da acomodação, muitas vezes não nos faz encontrar o que queremos, ou ainda pior, nos faz encontrar o que não queremos. Tudo isso faz parecer que a saída é a estagnação, já que o que se quer não se alcança. Se pararmos para perceber quanto já deixamos de fazer o que queríamos para terminar fazendo o que achávamos ter querido, veremos a extensa capacidade (advinda da insatisfação) para nos mobilizarmos em prol do que realmente nos foi prometido: o feliz progresso.