segunda-feira, 28 de maio de 2007

"A televisão me deixou burro, muito burro demais"

E-mail escrito por uma amiga, sobre a greve da USP.


Peço que repassem artigo em defesa das reivindicações estudantis, escrito pelo professor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), cadeira de Latim, escreveu para a Folha, porém, foi vetado.
Ele explica, baseado na documentação oficial, quais foram os motivos pelos quais USP, UNESP e UNICAMP entraram recentemente em greve.
Creio que, ao contrário do que tem feito a mídia, este seja um relato bastante informativo a respeito da crise das universidades paulistas.
O artigo, convém ressaltar, foi vetado para publicação por parte de Uirá Machado, Coordenador de Artigos e Eventos Folha de S.Paulo
Att.,
Camile Tesche



Autonomia, Justiça, Ocupação e Certa Imprensa
Paulo Martins
Professor Doutor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH/USP, Vice-coordenador da Pós-graduação em Letras Clássicas.



De acordo com dados oficiais e oficiosos, a Universidade de São Paulo responde por grande parte da pesquisa produzida no país (26.748 artigos publicados no Brasil e no exterior) e, seguramente, é ela também responsável por oferecer o melhor ensino de graduação ( 48.530 alunos) e de pós-graduação (25.007 alunos), alimentando, pois, o "famigerado mercado" com profissionais competentes. Além disso, poder-se-ia pensar em sua atuação junto à população como extensão de suas atividades que, muita vez, são essenciais principalmente aos cidadãos carentes de nosso "rico estado". Um bom exemplo: o atendimento feito no Hospital Universitário em 2006 a 255.597 pacientes em regime de urgência e 160.565 pacientes, no ambulatório[1] [1].

A quem, então, se deve a qualidade de ensino, pesquisa e extensão que leva, por exemplo, a Universidade de São Paulo a ser ranqueada pelo Institute of Higher Education da Universidade de Shangai (Academic Ranking of World Universities - 2006) como a melhor Universidade da América Latina ou a figurar entre as cento e cinqüenta melhores do mundo, ou ainda, de acordo com a Webometrics Ranking of World Universites como a primeira entre os países emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China)? A resposta é vasta, pois passa pela qualificação dos professores (dos 5.222, 96,3% têm titulação de doutor), pelas bibliotecas (39 com 6.907.777 volumes), pelos 47.866 alunos com acesso a microcomputadores. Mas pode ser resumida em uma só palavra "autonomia".

Essa, de acordo com o Dicionário Houaiss, entre outras possibilidades, é: "capacidade de se autogovernar; direito reconhecido a um país de se dirigir segundo suas próprias leis; soberania; faculdade que possui determinada instituição de traçar as normas de sua conduta, sem que sinta imposições restritivas de ordem estranha; direito de se administrar livremente; liberdade, independência moral ou intelectual. " Pois bem, a Constituição Brasileira, em seu artigo 207 (com acréscimos da Emenda Constitucional no. 11), estende o preceito às Instituições de Ensino Superior, propondo:



"As universidades gozam de autonomia didático-cientí fica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão."


Tal aplicação também ocorre na Constituição do Estado de São Paulo, em seu artigo 254:

"A autonomia da universidade será exercida, respeitando, nos termos do seu estatuto, a necessária democratização do ensino e a responsabilidade pública da instituição, observados os seguintes princípios:

I - utilização dos recursos de forma a ampliar o atendimento à demanda social, tanto mediante cursos regulares, quanto atividades de extensão;

II - representação e participação de todos os segmentos da comunidade interna nos órgãos decisórios e na escolha de dirigentes, na forma de seus estatutos."



Foi, justamente, aplicando o conceito à administração didático-cientí fica e à gestão financeira, orçamentária e patrimonial que, a partir de 1988, a população brasileira observou um aumento significativo dos indicadores de produtividade das universidades ainda que restrições severas devam ser feitas à avaliação do desempenho universitário, tendo por base única e exclusiva os dados estatísticos, dada a diversidade e universalidade das atividades acadêmicas, que não podem e não devem ser avaliadas da mesma maneira sempre. Mesmo assim, vale ressaltar que a partir da promulgação da Constituição até 2006, por exemplo, a produção científica da UNICAMP aumentou 602% e o número de vagas de graduação e pós-graduação nas três Universidades sofreu um aumento inquestionável.

Por sua vez, 2007 assiste a uma agressão séria à justiça, princípio moral em nome do qual o direito deve ser respeitado, e ao Estado de Direito, dentro das Universidades Estaduais Paulistas, isto é, assiste a uma transgressão velada da Carta Magna do país e do estado. Sob o pretexto da transparência administrativa, o governo José Serra solapa, a uma só penada e ao arrepio da lei maior, uma conquista da comunidade acadêmica ao publicar "seus" decretos 51.535/07 (que dá nova redação ao artigo 42 do Decreto nº 51.461, de 1º de janeiro de 2007, que organiza a Secretaria de Ensino Superior.), 51.460/07 (que dispõe sobre as alterações de denominação e transferências que especifica, define a organização básica da Administração Direta e suas entidades vinculadas), 51.461/07 (que organiza a Secretaria de Ensino Superior), 51.636/07 (que firma normas para a execução orçamentária e financeira do exercício de 2007) e 51.660/07 (que institui a Comissão de Política Salarial).

Assim, esses decretos, sob o falso e mentiroso resguardo da autonomia, impedem a contratação de funcionários e professores; dispõem do patrimônio das Universidades; vinculam a dotação orçamentária a necessidades práticas e imediatas do mercado e não permitem a livre negociação salarial. Exemplo, propriamente dito, pode ser facilmente aferido num rápido exame de um dos artigos do decreto 51.471/07:



"Artigo 1º - Ficam vedadas a admissão ou contratação de pessoal no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta, incluindo as autarquias, inclusive as de regime especial, as fundações instituídas ou mantidas pelo Estado e associedades de economia mista.

(...)

§ 2º - O Governador do Estado poderá, excepcionalmente, autorizar a realização de concursos, bem como a admissão ou contratação de pessoal, mediante fundamentada justificação dos órgãos e das entidades referidas no "caput" deste artigo e aprovada:"



Vale dizer que as Universidades Estaduais Paulistas são Autarquias de Regime Especial e, portanto, como se pode observar, apenas o Senhor todo poderoso governador do Estado de São Paulo pode efetivamente contratar professores e funcionários para as Universidades. Bem, se essas não podem contratar quando bem lhe aprouver, então sua autonomia inexiste. Esta é apenas uma confirmação do quanto se mente quando se governa. Assim, o repúdio a tais decretos, acrescido de outras reivindicações não menos justas, associado a certa inabilidade política da dirigente máxima da USP, a reitora Professora Suely Vilela, provocaram a crise em que vive hoje a Universidade, que foi coroada com a ocupação das dependências da Reitoria da USP.

Ainda quanto aos decretos, eles soariam muito naturais, esperados e desejados se a sociedade, real proprietária e beneficiária das Universidades estaduais, de alguma forma, encontrasse nelas irregularidades que maculassem a probidade administrativa, ou ainda, não visse nelas um pólo de excelência que servisse de modelo para a educação fundamental e básica, esta sim mais do que vilipendiada pela administração direta de sucessivos governos estaduais, entre os quais aqueles a que se filiam os atuais mandatários do governo. Assim não satisfeitos de serem co-responsáveis com o fim da educação básica e fundamental de qualidade em nosso estado, lançam suas mãos nefastas e nefandas também sobre as Universidades.

Contudo, com desfaçatez e dissimulação, o governador José Serra e seu secretário José Aristodemo Pinotti, afora os asseclas e epígonos sem postos no governo (não sei como) de certa imprensa, mormente, "blogueiros" e articulistas de certa revista semanal, que, de passagem, prima por ser um veículo de pensamento único, disfarçada e dissimulada no pluralismo, no respeito às instituições e ao "Estado de Direito" teimam em transferir a responsabilidade da crise que hoje se vê na USP, UNESP e UNICAMP para aqueles que reagiram à agressão dos decretos e à falta de boa vontade dos dirigentes universitários. A mídia (de modo geral - há exceções) e Governo acusam os alunos de "invasores", desordeiros, baderneiros etc. Não escapam também às suas acusações professores e trabalhadores da Universidade de São Paulo. Seriam estes os manipuladores daqueles, massa acéfala, que, supostamente, incitada, tomou com violência as dependências da reitoria em nome de uma posição partidária ou, como preferem, "em nome de um programa comum da esquerda retrógrada", ou melhor, da "neo-esquerda" que abarcaria - vejam só - o PT, o PSTU, o PSOL e o PCdoB, como se esta unidade já não estivesse inviabilizada desde muito tempo. Afinal os bandidos "remelentos" e "mafaldinhas" ("que merecem ser entregues aos papais e mamães pela PM"), como um desses jornalistas se refere aos alunos da Universidade, estão tentando desestabilizar o governo por puro rancor eleitoral em nível estadual. Ridículo!

Se justiça há a partir da conformidade dos fatos com o direito, violência existe, sim, por parte de um terrorismo de Estado, travestido de respeito ao cidadão, encarnado atualmente pela política do ensino superior do Estado de São Paulo. Mais do que isso, o desejo do governo não é transparência, é, sim, ter poder decisório sobre os 9,57% da arrecadação de ICMS que em 2006 significou em valores absolutos 5,2 bilhões de reais.

O mínimo esperado do governo e da reitoria diante da crise universitária por eles criada é respeito real e concreto àqueles que trabalham e estudam nas Universidades Estaduais. Assim, ouvir a comunidade acadêmica, discutir realmente com ela, recebê-la de fato e, vez por outra, atendê-la em suas reivindicações, longe de demonstrar fraqueza - há que se pensar nisto, haja vista a possibilidade da retirada dos manifestantes pela força policial - são características dos verdadeiros homens de Estado e de efetivos administradores de universidades públicas. É uma pena, entretanto, que atualmente não encontremos nem estadistas no palácio dos Bandeirantes, tampouco bons administradores à frente da maior Universidade do país. Quanto a certos jornalistas, bem, diante deles me calo, afinal para que servem se apenas sabem servir ao poder constituído.. .




[1][1] Todos os dados numéricos foram extraídos do Anuário Estatístico USP - 2006.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

It's only rock 'n' roll but I like it

A greve desse ano tem gerado muita discussão, tanto pró quanto contra.

E quem é da FFLCH, de verdade, sabe da importância de se manifestar buscando seus direitos.

Os alunos decidiram aderir à greve - embora nem todos respeitem o posicionamento tomado em conjunto na assembléia dos centros acadêmicos (com direito, claro, à votação dos alunos). Diante disto, alguns professores sabem como proceder, outros não. Mas mesmo os que não sabem reconhecem a importância da decisão tomada nos órgãos que lhes (e nos) são representativos.

Como exemplo, eis a resposta de uma professora do Inglês a um e-mail de uma amiga sobre haver ou não aula.


Beth e demais alunos,

sim, estou sabendo da decisão dos estudantes de ontem à noite. Só não sabia dos piquetes. Isso provavelmente muda a situação anterior. Minha posição é a seguinte: a minha categoria, em assembléia da ADUSP na última terça, decidiu, por enquanto, apenas aprovar um indicativo de greve, mas sem data ainda definida. Vamos ter nova assembléia dia 23, para decidirmos se entramos em greve, o que eu, particularmente, acho e espero que aconteça. Assim, não estando em greve, tenho a obrigação e a responsabilidade de comparecer ao trabalho, por mais desconfortável que seja a situação de dar aulas, considerando-se que os estudantes e funcionários já estão em greve. Contudo, apóio a decisão dos estudantes, mesmo no que se refere aos piquetes. Pelo que vocês me relatam hoje, é de se prever que os piquetes continuarão amanhã e que, muito provavelmente, a atividade que conseguiremos realizar será de discussão da situação e de esclarecimentos, conforme o desejo dos estudantes em greve, relatado na mensagem da Juliana Chaves Souza, abaixo. Estarei lá, no prédio, amanhã, nos meus horários de aula, para o que for possível fazer - provavelmente as discussões desejadas pelos estudantes. Claro que, mesmo na improvável situação de levantamento dos piquetes e calmaria e conseqüente possibilidade de termos aula, não darei falta para ninguém, mesmo porque os estudantes decidiram entrar em greve e têm direito a não querer ter aulas. Mas, realisticamente, acho que vamos estar lá amanhã para discussões, apenas.

Até,
Marisa Grigoletto


Isso é ter postura.

Maiores informações: ADUSP.org.br

quarta-feira, 16 de maio de 2007

as "Atlantic"

It's a sad, sad world
without you in it
(...)
It's a sad, sad world
without you around


But I can't get no
satisfaction...
Oh, no, no, no!

terça-feira, 8 de maio de 2007

Skol Beats '07

Eu já havia ido ao do ano passado, com o empurra-empurra do Prodigy, com direito a pessoas passando mal e dormir na grama gelada pra curtir um nascer do sol ao som de psytrance.

Neste ano, os caras inventaram dois dias de festa, com preço bem maior (R$140 cada dia, R$200 pelos dois dias), num lugar em frente ao Anhembi. Fui só no show de sábado, pois na sexta não tinha ninguém que eu quisesse ver.

Desta vez me preparei musicalmente, baixei sets, ouvi à exaustão. Escolhi a programação, tudo certinho. Chegando lá, o que me decepcionou logo de cara foi a única alternativa alcoólica ser a cerveja homônima à festa (argh!). Fora isso, a vitamina C ajudou a agüentar o pique (quem é que se droga com vitamina C??).

Depois daquela rodada básica inicial para reconhecer o terreno, sem dúvida o que me chamou mais a atenção não foi um DJ em especial, mas o sistema de som, especialmente do Palco Live. Cara, o que era aquilo?? Acabava deixando até o DJ mais patético com um som bem legal. Fazia valer o ingresso.

Como o MC não calava a boca um segundo durante o drum and bass do D-Bridge, resolvemos dar uma voltinha pelo evento, conhecer um pouco mais o que estava rolando. Praça de alimentação com pizza, temaki, sanduíche de mortadela, yakissoba, Black Dog (do mal)... Máquina de pegar bichinhos (do limão da Pepsi Twist), tenda Chill Out da H2OH! (super cousy), bar, banheiro, etc.

Atrações

Eu esperava abrir a nossa festa com o Propulse. E esperava um atraso já desde o começo. O atraso da festa não veio e não bateu com o meu: quando chegamos, o Propulse já havia saído. Ok. Um suspiro... Nem doeu tanto. O que eu queria mesmo ver era o Crystal Method, a Miss Kittin, o Murphy e o Marky.

Veio o Marky primeiro, meia-noite. Bem legal, dançável mesmo, um pouquinho cansativo (também, depois de duas horas...). Mas o som da sua tenda, sem dúvida, era o mais fraco, infelizmente. Foi um set "bom". Só "bom".

Roda aqui, roda ali, bebe um pouco e veio o Crystal Method.

Meu Deus! O que foi aquilo?? Tudo bem que eles não fizeram Live PA (como prometia a mídia), só trabalharam com discos mesmo, mas eles conseguiram misturar seu estilo Big Beat em músicas que eu jurava não rolar naquela noite, como "Killin' The Name" (do extinto Rage Against The Machine), que agitou um bocado, ou até em "Smack My Bitch Up", do Prodigy.

Faço minhas as palavras de Fábio Mergulhão:

"E eles vieram, breakbeat, um daqueles que toca em todo lugar hoje em dia. Mas foram pro techno, no hip hop, pros hits deles, um no final era vinheta da MTV (...). Acabou, espacial, break que não é "breakbeat" porque atrás tem uma moto ácida subindo e voltando em vai-e-vem e que faz ser Crystal Method - semelhanças óbvias com o óbvio Chemical Bros.

Será que eu gostei? O telão psy de ótima definição, as câmeras mostrando o trabalho dos DJs, o sistema de som cujos "graves ardiam na espinha e na nuca" (como li no rraurl.com) já faziam valer – ainda mais – o ingresso. Crystal Method não deixou pra mais ninguém.

Eu estava enlouquecido e quase sem forças, em plenas 4 e meia da madrugada. Chegou a hora da comida (yakissoba, delicioso), do banheiro, do descanso. Quase perdendo o pique, fomos à tenda The End para ver a "musa do electro", Miss Kittin.

A francesa chegou com um som baixo, pouco empolgante, às 6h. Com o dia nascendo e a pouca energia, as batidas eletrônicas foram deixando de ser empolgantes. O set da dita musa só confirmaram uma opinião que eu tinha a respeito do Laurent Garnier: francês não sabe fazer música eletrônica. Miss Kittin tinha um set chato, com muitas intervenções da sua voz aguda e chatinha, às vezes perdendo o tempo ao abaixar o volume e voltar para a música. Enfim, foi a decepção da noite. Fiquei realmente triste não só porque ela não tocou mais de uma música que eu conhecesse, mas porque o que ela tocou de fato não era bom. "Ela foi afetada pelo horário" se ouviam os comentários da galera, que tentava se sacudir meio sem ânimo. Aos poucos a tenda foi se esvaziando, e junto com os dissidentes, eu também saímos.

O descanso para esperar o Murphy debaixo de um solzinho irritante fez o sono e o cansaço serem superiores à vontade de ver um dos caras mais aguardados. Só a Vitamina C não foi suficiente para me manter desperto, especialmente depois de um dia de trabalho. Fomos embora (para tentar dormir um pouco no carro) antes do show do Murphy, uma pena.

Conclusão

Para o ano que vem:
- Beber antes de entrar, preferencialmente Tequila, coisas energéticas, e tal;
- Ouvir mais pelo estilo dos caras do que pelas músicas dos discos deles (já sabendo que quase ninguém toca músicas famosas de seus discos);
- E, definitivamente, não trabalhar no dia.

Balanço:
Vale a pena, mas tem que estar mais preparado para as mais de doze horas. E, sim, foi melhor do que ter se abarrotado em meio a multidões, correndo o risco de tomar borrachada da polícia ao assistir a um show que eu gosto da Virada Cultural.

É isso.

Por hora, "Voltando ao Rock Progressivo Mode: On".