Y mañana és mi cumpleaños! (Rapha, feel free to correct me ;)
:DDD
Nada de trampo, nada de aula (a não ser uma de Química Orgânica, que a Na não pode perder, assim, vou assistir com ela), cinema de qualidade, comida exótica e lugares diferentes!
A hell of a day!
:D
Mas falando um pouco mais sério, queria mesmo é que minha abuelita estivesse melhor, pra eu pelo menos poder almoçar com a minha mãe (que eu não vejo há quase uma semana, por estar cuidando da mãe dela)... :/
Espero que tudo esteja bem, pelo menos, pra podermos comemorar o dia delas.
terça-feira, 27 de abril de 2004
     Away no banheiro
     Saía de uma interessante aula de Comunicação Oral. Tinha acabado de apresentar um texto acadêmico e me saíra muito bem. Enquanto buscava um banheiro no prédio da Filosofia, no caminho para meu ponto de ônibus, comemorava mentalmente minha apresentação. Pensava em contar meu êxito para minha namorada, enquanto passava pela porta do toalete indo em direção à uma cabine com porta aberta, livre. Duas cabines fechadas, espelho grande, várias pias. Era assim o banheiro da filosofia, de certo eu só não estava habituado. Encaminhei-me para a privada pensando na verba que a Reitoria da Universidade designava para a melhora dos banheiros da Filosofia enquanto os da Letras simplesmente iam apodrecendo. Abri o zíper e satisfiz minha necessidade. Viro-me, saio da cabine e, frações de segundos, meus olhos dão com as costas de uma blusa azul, alguém a se olhar no espelho, amarrando os cabelos castanhos compridos. Das costas, vendo lateralmente, a uma curva, na altura do peito: seios: uma garota: duas garotas: banheiro feminino. Desespero, timidez, olhar o chão, desculpas, desculpas, muitas desculpas e o rosto rubro. Saio apressado, sem lavar as mãos, mas pude ouvir o eco da frase em meio ao riso de uma menina à outra:
     – Bem que, quando eu entrei, falei: ‘Nossa, fazendo de porta aberta...’.
     Saía de uma interessante aula de Comunicação Oral. Tinha acabado de apresentar um texto acadêmico e me saíra muito bem. Enquanto buscava um banheiro no prédio da Filosofia, no caminho para meu ponto de ônibus, comemorava mentalmente minha apresentação. Pensava em contar meu êxito para minha namorada, enquanto passava pela porta do toalete indo em direção à uma cabine com porta aberta, livre. Duas cabines fechadas, espelho grande, várias pias. Era assim o banheiro da filosofia, de certo eu só não estava habituado. Encaminhei-me para a privada pensando na verba que a Reitoria da Universidade designava para a melhora dos banheiros da Filosofia enquanto os da Letras simplesmente iam apodrecendo. Abri o zíper e satisfiz minha necessidade. Viro-me, saio da cabine e, frações de segundos, meus olhos dão com as costas de uma blusa azul, alguém a se olhar no espelho, amarrando os cabelos castanhos compridos. Das costas, vendo lateralmente, a uma curva, na altura do peito: seios: uma garota: duas garotas: banheiro feminino. Desespero, timidez, olhar o chão, desculpas, desculpas, muitas desculpas e o rosto rubro. Saio apressado, sem lavar as mãos, mas pude ouvir o eco da frase em meio ao riso de uma menina à outra:
     – Bem que, quando eu entrei, falei: ‘Nossa, fazendo de porta aberta...’.
sábado, 24 de abril de 2004
O Sarau da Pri
Há uma semana (o lag pra escrever aqui anda meio alto, né?) fomos eu e a Nati ao Sarau da minha amiga Priscila.
CRUSP, uma roda só, desvairio.
Vinhos secos, grandes poetas, viola inteira
Provolone, cigarros, mary jane, tudo muito moderno.
Poesias próprias lidas por outros próprios, vinhos doces.
Gente que chegou e já foi logo.
Gente que ficou até bem depois.
O que? Quinze pessoas? Por aí.
Old-fashioned
Eu li poema da Nati
A Gi leu uns meus
A Pri, Alice Ruiz
A Pri, da própria.
Palmas!
É, não tem jeito.
Modernismo não é pra mim.
Há uma semana (o lag pra escrever aqui anda meio alto, né?) fomos eu e a Nati ao Sarau da minha amiga Priscila.
CRUSP, uma roda só, desvairio.
Vinhos secos, grandes poetas, viola inteira
Provolone, cigarros, mary jane, tudo muito moderno.
Poesias próprias lidas por outros próprios, vinhos doces.
Gente que chegou e já foi logo.
Gente que ficou até bem depois.
O que? Quinze pessoas? Por aí.
Old-fashioned
Eu li poema da Nati
A Gi leu uns meus
A Pri, Alice Ruiz
A Pri, da própria.
Palmas!
É, não tem jeito.
Modernismo não é pra mim.
sábado, 17 de abril de 2004
São Paulo - SP / CCB de Serrinha - RJ
1º DIA - "Foi um rio que passou em minha vida"
Depois de uma semana cheia de planos, acordos, compras (supermercado em cima da hora, inclusive), checagens e (falta de) comunicação entre as 4 famílias, fomos para a estrada. Fomos os Andrades (com exceção da minha irmã), os Cruzes, os Carvalhos e os Avellares, famílias que se conheceram no CCB de Itanhaém.
Foram quatro horas de viagem, fora o almoço na estrada, em Roseira - SP. Claro que fizemos festa ao cruzarmos a fronteira SP/RJ, onde tinha uma placa muito legal (que mais tarde eu tento copiar e pôr aqui).
Subindo a estradinha pedregosa, íngreme e sem fim vimos que os arredores tinham mudado bastante desde a minha única ida até lá, há 9 anos. Casas, bares, estâncias, chácaras, pousadas etc. Nem parece o mesmo lugar. A civilização já dá indícios que chegou lá também.
Chegamos (Mãe, Pai, Nati e eu) à tardinha ao camping. Ao chegarmos, os outros três Carvalhos (família da Nati) já estavam lá. Como tinham chegado antes do almoço, armado a barraca deles (próximo de um riacho que corria ali perto - pra dar um clima gostoso pelo barulhinho da água correndo) e arrumado tudo, vieram ajudar a armar as nossas: uma para mim e a Na, uma para os meus pais e mais outra para o Leonardo, que chegou mais tarde, com os Cruzes.
Armamos as três barracas com certa rapidez e uma chuvinha fraca, mas insistente. Ao terminarmos, comemorando a empreitada, a chuva aumentou e também as poças de lama. O que parecia ser somente uma poça vimos se transformar no leito transbordado do riacho que corria atrás. A água cruzava a lona de baixo da barraca. Pânico, medo, choro, angústia, frustração e chuva, muita chuva. Tiramos tudo de dentro da barraca e jogamos no carro dee qualquer jeito. Muita coisa molhou. Resolvemos trocar a barraca de lugar, mas a chuva era muita. Salvamos o que deu, de resto só poderíamos, molhados, esperar a chuva diminuir, já que a barraca estava protegida pela lona de baixo, que já praticamente flutuava. Acalmados os ânimos e a chuva, levamos a dita cuja para um ponto mais alto, cada um segurando uma ponta da lona de baixo, que sustentava o iglu, ou uma ponta da lona de cima. No meio disso tudo é que chegou o carro da família dos Cruzes, que tiveram a sorte de armar quase sem chuva alguma. Todas as estacas batidas, é hora do riso, da comida, do banho e do merecido descanso, porque já era meia-noite.
2º DIA - "Saudosa maloca / maloca querida"
Dia de chuva quase todo o dia.
À noite, no pavilhão, com mesas e bancos de madeira com cara de piquenique, teve vinhos, queijos, sopa de capeletti da sogra e violão (com o povo - eu incluso - se esgoelando de cantar, principalmente nas músicas típicas paulistanas "Saudosa Maloca", "Trem das Onze" e "Tiro ao Álvaro"). Também teve um pouco de Detetive Reloaded.
3º DIA - "It's a beautiful day / Don't let him get away"
O tempo estava mais aberto. Só porque a gente até já tinha se acostumado à lama... Mesmo assim a galera não se animou em ir às cachoeiras/quedas d'água/piscinas naturais de dentro do camping e arredores.
Resolveram ir à Penedo, cidade próxima, de colonização finlandesa com casas, bugingangas e motivos escandinavos. Comi chocolate com pimenta, que eu não gostei apesar de gostar de cada um deles em separado. Enquanto isso a Nati se divertia com bichos de pelúcia de uma loja infantil em frente. É engraçado porque a cidade é uma vilazinha com duas ruas compridas paralelas e algumas transversais e só. Isso é Penedo - RJ.
Ao voltarmos jogamos Detetive, aquele de tabuleiro mesmo. Na primeira a Lívia ganhou; na segunda, surpresa, o Eduardo!
À noite um remake da noite anterior em menor escala, mas mais duradouro pras fofoqueiros de plantão, que ficaram no pavilhão observando atentamente as roupas, costumes e atitudes dos outros acampantes (em sua maioria cariocas).
Já aí fizemos alguns planos para o dia seguinte, dia de partir e, nisso, uma mini-contenda light com minha sogra, pra fechar a noite.
4º DIA - "Never say goodbye"
Por ironia, foi o melhor dia, que começou cedo pra desarmarmos as barracas e guardar tudo no carro.
Como abriu um sol legal, tomado o café, descemos para a cachoeira e a piscina de pedra. Simplesmente maravilhoso. Água muuuuuuuuuito gelada, escalada de pedras, cãimbra e medo na água, emoção e sauna pra fechar.
De almoço a famosa truta com alcaparras da cantina do CCB. E demos adeus ao camping maravilhoso.
Na volta, depois de descer os 15 íngremes quilômetros de estrada de pedras e pedregulhos, na Dutra, furamos o pneu. O estepe, claro, estava no fundo do porta-malas entupido de coisas. Paramos, trocamos, pusemos tudo de volta, tiramos tudo de novo na borracharia mais próxima pra podermos arrumar o furado e curtimos o calor desértico de Aparecida do Norte - SP.
Mais tarde, congestionamento e horas de viagem depois, resolvemos não pegar a Marginal, mas tentar um caminho alternativo. Resultado: nos perdemos nos arredores do bairro de Sacomã e quando menos esperávamos avistamos a entrada de São Caetano do Sul. Depois de rodar um pouco, achamos o retorno, Jabaquara e, mais um pouco, casa. Chegamos às 21h30. O que era para ser quatro, transformou-se em sete horas de viagem.
Tiramos bastante fotos (algumas ousadas), ficamos com alguns arranhões e cortes, roupas molhadas, bastante vinho, queijo e chocolate no corpo, um dia sem banho, um pneu a menos no carro, alguma água a menos no organismo (pela sauna) e um cansaço reconfortante junto da certeza de ter tido um feriado dos melhores possíveis e como há muito não me lembrava de ter tido.
1º DIA - "Foi um rio que passou em minha vida"
Depois de uma semana cheia de planos, acordos, compras (supermercado em cima da hora, inclusive), checagens e (falta de) comunicação entre as 4 famílias, fomos para a estrada. Fomos os Andrades (com exceção da minha irmã), os Cruzes, os Carvalhos e os Avellares, famílias que se conheceram no CCB de Itanhaém.
Foram quatro horas de viagem, fora o almoço na estrada, em Roseira - SP. Claro que fizemos festa ao cruzarmos a fronteira SP/RJ, onde tinha uma placa muito legal (que mais tarde eu tento copiar e pôr aqui).
Subindo a estradinha pedregosa, íngreme e sem fim vimos que os arredores tinham mudado bastante desde a minha única ida até lá, há 9 anos. Casas, bares, estâncias, chácaras, pousadas etc. Nem parece o mesmo lugar. A civilização já dá indícios que chegou lá também.
Chegamos (Mãe, Pai, Nati e eu) à tardinha ao camping. Ao chegarmos, os outros três Carvalhos (família da Nati) já estavam lá. Como tinham chegado antes do almoço, armado a barraca deles (próximo de um riacho que corria ali perto - pra dar um clima gostoso pelo barulhinho da água correndo) e arrumado tudo, vieram ajudar a armar as nossas: uma para mim e a Na, uma para os meus pais e mais outra para o Leonardo, que chegou mais tarde, com os Cruzes.
Armamos as três barracas com certa rapidez e uma chuvinha fraca, mas insistente. Ao terminarmos, comemorando a empreitada, a chuva aumentou e também as poças de lama. O que parecia ser somente uma poça vimos se transformar no leito transbordado do riacho que corria atrás. A água cruzava a lona de baixo da barraca. Pânico, medo, choro, angústia, frustração e chuva, muita chuva. Tiramos tudo de dentro da barraca e jogamos no carro dee qualquer jeito. Muita coisa molhou. Resolvemos trocar a barraca de lugar, mas a chuva era muita. Salvamos o que deu, de resto só poderíamos, molhados, esperar a chuva diminuir, já que a barraca estava protegida pela lona de baixo, que já praticamente flutuava. Acalmados os ânimos e a chuva, levamos a dita cuja para um ponto mais alto, cada um segurando uma ponta da lona de baixo, que sustentava o iglu, ou uma ponta da lona de cima. No meio disso tudo é que chegou o carro da família dos Cruzes, que tiveram a sorte de armar quase sem chuva alguma. Todas as estacas batidas, é hora do riso, da comida, do banho e do merecido descanso, porque já era meia-noite.
2º DIA - "Saudosa maloca / maloca querida"
Dia de chuva quase todo o dia.
À noite, no pavilhão, com mesas e bancos de madeira com cara de piquenique, teve vinhos, queijos, sopa de capeletti da sogra e violão (com o povo - eu incluso - se esgoelando de cantar, principalmente nas músicas típicas paulistanas "Saudosa Maloca", "Trem das Onze" e "Tiro ao Álvaro"). Também teve um pouco de Detetive Reloaded.
3º DIA - "It's a beautiful day / Don't let him get away"
O tempo estava mais aberto. Só porque a gente até já tinha se acostumado à lama... Mesmo assim a galera não se animou em ir às cachoeiras/quedas d'água/piscinas naturais de dentro do camping e arredores.
Resolveram ir à Penedo, cidade próxima, de colonização finlandesa com casas, bugingangas e motivos escandinavos. Comi chocolate com pimenta, que eu não gostei apesar de gostar de cada um deles em separado. Enquanto isso a Nati se divertia com bichos de pelúcia de uma loja infantil em frente. É engraçado porque a cidade é uma vilazinha com duas ruas compridas paralelas e algumas transversais e só. Isso é Penedo - RJ.
Ao voltarmos jogamos Detetive, aquele de tabuleiro mesmo. Na primeira a Lívia ganhou; na segunda, surpresa, o Eduardo!
À noite um remake da noite anterior em menor escala, mas mais duradouro pras fofoqueiros de plantão, que ficaram no pavilhão observando atentamente as roupas, costumes e atitudes dos outros acampantes (em sua maioria cariocas).
Já aí fizemos alguns planos para o dia seguinte, dia de partir e, nisso, uma mini-contenda light com minha sogra, pra fechar a noite.
4º DIA - "Never say goodbye"
Por ironia, foi o melhor dia, que começou cedo pra desarmarmos as barracas e guardar tudo no carro.
Como abriu um sol legal, tomado o café, descemos para a cachoeira e a piscina de pedra. Simplesmente maravilhoso. Água muuuuuuuuuito gelada, escalada de pedras, cãimbra e medo na água, emoção e sauna pra fechar.
De almoço a famosa truta com alcaparras da cantina do CCB. E demos adeus ao camping maravilhoso.
Na volta, depois de descer os 15 íngremes quilômetros de estrada de pedras e pedregulhos, na Dutra, furamos o pneu. O estepe, claro, estava no fundo do porta-malas entupido de coisas. Paramos, trocamos, pusemos tudo de volta, tiramos tudo de novo na borracharia mais próxima pra podermos arrumar o furado e curtimos o calor desértico de Aparecida do Norte - SP.
Mais tarde, congestionamento e horas de viagem depois, resolvemos não pegar a Marginal, mas tentar um caminho alternativo. Resultado: nos perdemos nos arredores do bairro de Sacomã e quando menos esperávamos avistamos a entrada de São Caetano do Sul. Depois de rodar um pouco, achamos o retorno, Jabaquara e, mais um pouco, casa. Chegamos às 21h30. O que era para ser quatro, transformou-se em sete horas de viagem.
Tiramos bastante fotos (algumas ousadas), ficamos com alguns arranhões e cortes, roupas molhadas, bastante vinho, queijo e chocolate no corpo, um dia sem banho, um pneu a menos no carro, alguma água a menos no organismo (pela sauna) e um cansaço reconfortante junto da certeza de ter tido um feriado dos melhores possíveis e como há muito não me lembrava de ter tido.
sábado, 3 de abril de 2004
     Amarelo
     I
     Os Três Amigos acordaram e mataram aulas como num dia qualquer. Cada um vestiu sua bonita camisa colorida e bermuda. Como sempre, despediram-se de suas mães com um beijinho no rosto e foram encontrar os outros dois. Fazia tempos que não iam às aulas e matá-las já era cada vez mais desinteressante. As mães já quase não perguntavam da falta de caderno. O garoto de camisa vermelha resolveu renovar uma de suas práticas. Propôs aos amigos se divertirem de um jeito diferente:
     – Vamos engambelar alguém? Faz tempo que nós não fazemos isso.
     Os outros dois, um de azul o outro de amarelo, assentiram. Fazia tempos que não se divertiam intimidando as pessoas na rua e levando seus pertences. Passaram a discutir sobre o local:
     – Tem que ser um lugar sussa, sem gambé e sem muita gente, tá ligado? Mas tem que ser n'algum lugar onde todo mundo pergunta coisa pra todo mundo.
     – Tipo, onde? - perguntou o Azul, sempre com seus óculos escuros.
     – Poupatempo, esses bagulho?
     – Não, caralho! Poupatempo tem gambé pra caralho. Tem que ser sussa, tá ligado? - respondeu o Vermelho.
     – Tipo, n'alguma praça, assim?
     – É, tipo isso.
     – Ô, ali em baixo tem uma. Do lado do Detran.
     – E no Detran num tem os homens?
     – Tem nada! Orra, vamos lá!
     – Beleza. Vamos que essa camisa amarela aqui já tá desbotando, essa porra. Tô precisando uma nova... - disse o Amarelo, rindo e fazendo planos com o dinheiro que levariam.
     Durante o caminho, Vermelho pensou em definir o alvo para o assalto:
     – Não pode ser preto, que você tá ligado, né? Nós pega um preto depois desce a favela inteira atrás de nós, lá na escola, no cafofo... É foda.
     – Pode crê. Também não pode ser alemão. Vai que o cara é doido, meio nazista, sei lá. - redarguiu o Azul.
     – Não viaja, porra. Tô falando sério, caralho. Alemão pode. Tem nada a ver, não.
     – Então não pode é magrelão, nem alto, nem forte, que a gente pode tomar umas porradas ou o otário sai correndo, essas merda.
     E desceram a rua em direção à praça. Passaram por ela três vezes, nada. Num uma velha, nem madame, nem office-boy, nem um retardado. Foi quando avistaram, tentando atravessar a a avenida rumo à praça, um rapaz de quase 22 anos de idade (a mesma dos três), levemente obeso, com cara de desajeitado, barba por fazer, óculos escuros e ouvindo música num fone de ouvido. Se entreolharam e sorriram para si próprios, fechando o sorriso numa feição de ameaça, enquanto o rapaz se aproximava, carregando nas costas sua mochila surrada. O Vermelho pôs a mão no bolso, agitado. O Amarelo, de passos firmes, fazia sinal para o rapaz diminuir seu passo. Disseram coisas ao rapaz, que estava também de camisa amarela e não compreendera o sinal. Só então ele tirou o fone de ouvido e percebeu que estava sendo assaltado.
     – Passa o dinheiro e fica sussa. Na moral! - disse rápido o Amarelo.
     Todos falavam "vai" e "vamos logo". Sempre as mesmas frases em meio às ações num tempo que parece acelerado sempre. Levaram todo o dinheiro dele e as conduções de ônibus e metrô. Como acharam pouco, o Vermelho reagiu com raiva nos olhos:
     – Dá o discman, porra! Passa logo! Mochila no chão. Vamos!! Passa essa porra!
     – Amigo, eu só tenho doze reais - rspondeu o rapaz para o Amarelo, que verificara a carteira enquanto o Vermelho olhava a mochila. O Azul só olhava em volta, cuidando do movimento.
     Estavam para abandonar a vítima quando o Amarelo reparou na camisa amarela do assaltado. Nova, de bom tecido e limpa.
     – Tira a camisa, porra. Passa pra cá!
     – Que?
     O Azul e o Vermelho se surpreenderam.
     – Não, mano! Deixa o cara. Vai dar merda. O cara sem camisa chama a atenção. Vão pegar a gente.
     – Cala a boca! Vão nada! Tá calor. Anda, otário, tira logo!
     O rapaz obedece. Os três abandonam-no. Ameaçando-o caso chame a polícia. Em seguida, dão alguns passos e comemoram a vitória no delito, não sem repreender o Amarelo. Sentam-se embaixo de uma ponte da praça e ouvem o CD que o rapaz ouvia, tranqüilamente.
     II
     No Departamento de Polícia, o rapaz, sem camisa e sem dinheiro, fazia o Boletim de Ocorrência. Deu pormenorizadamente, como requerido, os detalhes do assalto e das características dos Três Amigos. Ao reler os dados e os momentos impressos nos papéis e na sua mente, ele ouve os comentários das atendentes do departamento, na imponente sala ao lado:
     – E não queria ser assaltado? Com esse jeito de pacífico, óculos escuros, escutando música e com roupa amarela, que chama a atenção...
     – Aí já é estar pedindo, né?
     O rapaz assina as vias da Ocorrência e pensando em como voltar pra casa depara-se com o cartaz na saída do D. P.: "Nós estamos aqui para resolver seu problema, não para sermos um".
-.---.----..-.---.----..
Tem coisas que só ficam boas em forma de conto.
Quase tudo é ou deve ser verdade. Aconteceu ontem. A camisa foi só questão de coincidência, por isso inventei que ele tinha levado. Anyway, fiquei com a camisa, mas sem o dinheiro, sem o discman e sem meu cd de mp3. Pelo menos eles deixaram todos os documentos e os cartões de banco.
Agora, qual é a coisa mais irônica quanto a tudo isso? Depois de ter escrito o conto no ônibus, ao passar para o pc, escutando músicas aleatórias, toca Proteção, da Plebe Rude.
Tsc, tsc, tsc.
God is a big joker sometimes.
"Fi, fa, fu, fun for me", he'd say.
     I
     Os Três Amigos acordaram e mataram aulas como num dia qualquer. Cada um vestiu sua bonita camisa colorida e bermuda. Como sempre, despediram-se de suas mães com um beijinho no rosto e foram encontrar os outros dois. Fazia tempos que não iam às aulas e matá-las já era cada vez mais desinteressante. As mães já quase não perguntavam da falta de caderno. O garoto de camisa vermelha resolveu renovar uma de suas práticas. Propôs aos amigos se divertirem de um jeito diferente:
     – Vamos engambelar alguém? Faz tempo que nós não fazemos isso.
     Os outros dois, um de azul o outro de amarelo, assentiram. Fazia tempos que não se divertiam intimidando as pessoas na rua e levando seus pertences. Passaram a discutir sobre o local:
     – Tem que ser um lugar sussa, sem gambé e sem muita gente, tá ligado? Mas tem que ser n'algum lugar onde todo mundo pergunta coisa pra todo mundo.
     – Tipo, onde? - perguntou o Azul, sempre com seus óculos escuros.
     – Poupatempo, esses bagulho?
     – Não, caralho! Poupatempo tem gambé pra caralho. Tem que ser sussa, tá ligado? - respondeu o Vermelho.
     – Tipo, n'alguma praça, assim?
     – É, tipo isso.
     – Ô, ali em baixo tem uma. Do lado do Detran.
     – E no Detran num tem os homens?
     – Tem nada! Orra, vamos lá!
     – Beleza. Vamos que essa camisa amarela aqui já tá desbotando, essa porra. Tô precisando uma nova... - disse o Amarelo, rindo e fazendo planos com o dinheiro que levariam.
     Durante o caminho, Vermelho pensou em definir o alvo para o assalto:
     – Não pode ser preto, que você tá ligado, né? Nós pega um preto depois desce a favela inteira atrás de nós, lá na escola, no cafofo... É foda.
     – Pode crê. Também não pode ser alemão. Vai que o cara é doido, meio nazista, sei lá. - redarguiu o Azul.
     – Não viaja, porra. Tô falando sério, caralho. Alemão pode. Tem nada a ver, não.
     – Então não pode é magrelão, nem alto, nem forte, que a gente pode tomar umas porradas ou o otário sai correndo, essas merda.
     E desceram a rua em direção à praça. Passaram por ela três vezes, nada. Num uma velha, nem madame, nem office-boy, nem um retardado. Foi quando avistaram, tentando atravessar a a avenida rumo à praça, um rapaz de quase 22 anos de idade (a mesma dos três), levemente obeso, com cara de desajeitado, barba por fazer, óculos escuros e ouvindo música num fone de ouvido. Se entreolharam e sorriram para si próprios, fechando o sorriso numa feição de ameaça, enquanto o rapaz se aproximava, carregando nas costas sua mochila surrada. O Vermelho pôs a mão no bolso, agitado. O Amarelo, de passos firmes, fazia sinal para o rapaz diminuir seu passo. Disseram coisas ao rapaz, que estava também de camisa amarela e não compreendera o sinal. Só então ele tirou o fone de ouvido e percebeu que estava sendo assaltado.
     – Passa o dinheiro e fica sussa. Na moral! - disse rápido o Amarelo.
     Todos falavam "vai" e "vamos logo". Sempre as mesmas frases em meio às ações num tempo que parece acelerado sempre. Levaram todo o dinheiro dele e as conduções de ônibus e metrô. Como acharam pouco, o Vermelho reagiu com raiva nos olhos:
     – Dá o discman, porra! Passa logo! Mochila no chão. Vamos!! Passa essa porra!
     – Amigo, eu só tenho doze reais - rspondeu o rapaz para o Amarelo, que verificara a carteira enquanto o Vermelho olhava a mochila. O Azul só olhava em volta, cuidando do movimento.
     Estavam para abandonar a vítima quando o Amarelo reparou na camisa amarela do assaltado. Nova, de bom tecido e limpa.
     – Tira a camisa, porra. Passa pra cá!
     – Que?
     O Azul e o Vermelho se surpreenderam.
     – Não, mano! Deixa o cara. Vai dar merda. O cara sem camisa chama a atenção. Vão pegar a gente.
     – Cala a boca! Vão nada! Tá calor. Anda, otário, tira logo!
     O rapaz obedece. Os três abandonam-no. Ameaçando-o caso chame a polícia. Em seguida, dão alguns passos e comemoram a vitória no delito, não sem repreender o Amarelo. Sentam-se embaixo de uma ponte da praça e ouvem o CD que o rapaz ouvia, tranqüilamente.
     II
     No Departamento de Polícia, o rapaz, sem camisa e sem dinheiro, fazia o Boletim de Ocorrência. Deu pormenorizadamente, como requerido, os detalhes do assalto e das características dos Três Amigos. Ao reler os dados e os momentos impressos nos papéis e na sua mente, ele ouve os comentários das atendentes do departamento, na imponente sala ao lado:
     – E não queria ser assaltado? Com esse jeito de pacífico, óculos escuros, escutando música e com roupa amarela, que chama a atenção...
     – Aí já é estar pedindo, né?
     O rapaz assina as vias da Ocorrência e pensando em como voltar pra casa depara-se com o cartaz na saída do D. P.: "Nós estamos aqui para resolver seu problema, não para sermos um".
-.---.----..-.---.----..
Tem coisas que só ficam boas em forma de conto.
Quase tudo é ou deve ser verdade. Aconteceu ontem. A camisa foi só questão de coincidência, por isso inventei que ele tinha levado. Anyway, fiquei com a camisa, mas sem o dinheiro, sem o discman e sem meu cd de mp3. Pelo menos eles deixaram todos os documentos e os cartões de banco.
Agora, qual é a coisa mais irônica quanto a tudo isso? Depois de ter escrito o conto no ônibus, ao passar para o pc, escutando músicas aleatórias, toca Proteção, da Plebe Rude.
Tsc, tsc, tsc.
God is a big joker sometimes.
"Fi, fa, fu, fun for me", he'd say.