Away no banheiro
     Saía de uma interessante aula de Comunicação Oral. Tinha acabado de apresentar um texto acadêmico e me saíra muito bem. Enquanto buscava um banheiro no prédio da Filosofia, no caminho para meu ponto de ônibus, comemorava mentalmente minha apresentação. Pensava em contar meu êxito para minha namorada, enquanto passava pela porta do toalete indo em direção à uma cabine com porta aberta, livre. Duas cabines fechadas, espelho grande, várias pias. Era assim o banheiro da filosofia, de certo eu só não estava habituado. Encaminhei-me para a privada pensando na verba que a Reitoria da Universidade designava para a melhora dos banheiros da Filosofia enquanto os da Letras simplesmente iam apodrecendo. Abri o zíper e satisfiz minha necessidade. Viro-me, saio da cabine e, frações de segundos, meus olhos dão com as costas de uma blusa azul, alguém a se olhar no espelho, amarrando os cabelos castanhos compridos. Das costas, vendo lateralmente, a uma curva, na altura do peito: seios: uma garota: duas garotas: banheiro feminino. Desespero, timidez, olhar o chão, desculpas, desculpas, muitas desculpas e o rosto rubro. Saio apressado, sem lavar as mãos, mas pude ouvir o eco da frase em meio ao riso de uma menina à outra:
     – Bem que, quando eu entrei, falei: ‘Nossa, fazendo de porta aberta...’.
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