quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

     Lala!

     Nunca fui muito afeito aos Teletubbies, os débeis personagens do programa infantil homônimo. Assim como nunca fui simpático aos vendedores de petiscos e afins na praia. Agora, é no mínimo ridículo quando juntam estas duas categorias numa só: os vendedores de praia vestidos como Teletubbies.
     Num dia de sol forte, saindo sozinho do mar em direção aos guarda-sóis dos meus amigos e familiares, notei um destes ambulantes, encarnado nas vestes felpudas e amarelas de um Teletubbie, vendendo seu algodão-doce diário.
     Ele passava em frente ao meu destino, chamativo, bem na minha linha de visão. Fiz uma careta. "Como alguém pode estar vendendo algodão-doce numa roupa quente como essa num verão quente como esse?"”, pensei numa fração de segundo. Ele, para meu azar, olhava em minha direção no momento exato do meu sinal repreensor, e, ao avistar-me, estacou. "A besta deve estar achando que eu quero comprar", pensei a seguir. Parado, assitindo à minha aproximação, a figura com a cabeça desproporcional e mal colocada, de sorriso desfigurado pelo muito uso da fantasia, apertava sua buzininha irritante e desafinada. À pouca distância da figura inocente, ainda desaprovava-a. E eis que de dentro dela saiu à voz grave e sonora:
     – Que que foi??
     Surpreendi-me. Medo? Desdém. Pânico? Ironia. Horror? Graça, isso sim. Sem interferir na minha direção, com um tapinha amigável em seu braço felpudo e icterítico, despedi-me:
     – Nada. – e emendei um – Bom trabalho, cara.
     Ele, não sem antes demorar-se dois segundos, seguiu seu caminho de trabalho diário. Eu segui rindo, ainda deescrente da cena surreal, que marcaria aquele dia como "O dia em que fui peitado pela Lala".

Nenhum comentário: