terça-feira, 11 de março de 2003

As Horas
(The Hours – EUA – 2002 – 114 min)

Lindo filme que, além de contar uma parte – a mais importante – da vida de uma escritora, é bastante literário. Um filme para ser além de visto, sentido.

As Horas conta a história de três mulheres com suas vidas bastante ligadas à obra Mrs. Dalloway, de Virgina Woolf. O interessante é que cada mulher vive em uma época diferente, o que confere ao roteiro grandes créditos por criatividade. As histórias se complementam e se explicam: em 2001, uma lésbica (Streep) quer dar uma festa a um amigo que sofre de doença terminal; em 1951, uma dona-de-casa (Moore) sufocada pela pressão da sua vida e da perfeição imposta ao lar americano daquela década; e em 1921, a própria Virgina Woolf (Kidman) escrevendo Mrs. Dalloway.

Nicole Kidman, com a (famosa) prótese no nariz, não se deixa abalar pela maquiagem e manda uma interpretação muito tocante, bastante intimista, como a própria autora.

Meryl Streep continua com bonita e competente com sua torrente calorosa de emoções gélidas e técnicas, o que descaracteriza a personagem, tornando-a muito parecida com outras personagens interpretadas pela atriz.

Julianne Moore é a que mais surpreende. Ao contrário da Meryl Streep, esta se envolve diretamente com a sua personagem, transformando-se em Laura Brown, a "gerente administrativa do lar", lar esse perfeito, sem um objeto fora de lugar, o que contribui para a pressão psicológica da perfeição.

Aliás, crédito também deve ser dado à cenografia, principalmente nessa época (os 50's) recriada perfeitamente e, portanto, absolutamente verossímil.

Outro destaque deve ser dado, um dos pontos mais altos do filme: a trilha sonora. Philip Glass estava muito inspirado quando criou o tema principal da história. Todas as composições musicais do filme emocionam e casam perfeitamente com o momento visual em que se apresentam. Trilha sonora para se ter em casa.

Uma história tocante, que em poucas vezes peca pelo arrasto, mas cuja direção é salva pelo conteúdo do roteiro e pelas magníficas interpretações, inclusive do indicado ao Oscar Ed Harris como o escritor amigo de Meryl Streep.

As Horas parece ter sido feito para todos aqueles que já sofreram alguma vez na vida. É um filme denso, que diz muito com poucas palavras. No corre-corre que o cinema vem promovendo ultimamente, é um tipo raro de filme: o "romance literário-cinematográfico".

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