quarta-feira, 18 de setembro de 2002

Eu consigo ver a vista cinza da praia pela janela do apartamento no Leblon. Aquele, lembra? Aquele que nunca tive, onde nunca estive.

No ICQ, ninguém. Aqui em casa, onde sempre é inverno, só eu e o Boby, companheiro de todas as horas.

Fico feliz por saber que não estou sozinho, mas como disse a Raphaela esses dias, "sinto que todo mundo tá fazendo alguma coisa da vida e eu não tô fazendo nada, que todo mundo tá indo pra frente e eu tô aqui, parada no mesmo lugar sem me mover". Nunca
Nunca me vi tanto no post de alguém antes...

Não sei se é porque estou doente (mais ou menos doente, é só dor de garganta), mas hoje não tenho vontade de fazer nada, de ir pra lugar algum, só ficar aqui, curtindo meu apartamento, com a vista nublada do Leblon.


INVERNO
(A. Calcanhotto)

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir

De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorço só
Sem amarras, barco embriagado ao mar

Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes do ocidente se assombrar

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