"Sorria, você está na Bahia" ou "Diário-guia de uma semana na Bahia"
Antes de mais nada, este é um post-diário. Mais pra ficar na minha memória wébica do que para informar da viagem ao leitor. Embora algumas coisas bem legais e engraçadas tenham acontecido, este post é mais para mim mesmo num dia futuro.
Ah, e "sorria, você está na Bahia" é dito por todo mundo em todos os lugares em todos os velocidades possíveis. O baiano adora sua terra; até a chama de "Terra da Felicidade". É um lugar onde o que importa mesmo é ser feliz.
Enjoy.
Sábado
Só fui acreditar que tava em Salvador quando vi das janelas do avião as inúmeras luzinhas surgindo e beirando o oceano. Já do avião comecei a entrar no clima e cultura local conversando com uma menina de 20 anos que saía de SP para ir visitar a mãe em Antas, na Bahia (a 8h de ônibus da capital baiana). Aline contou toda a história da sua vida e família durante as 2h de vôo (sem atrasos).
O agente de viagem, Wellington, é bastante engraçado e carismático. E haja paciência para agüentar a velharada! Há muitos idosos - quase todos professores, já que minha mãe marcara a viagem pelo SINPEEM.
No avião, da Varig, hot dog e quindim; ao descer, à meia-noite local (onde não há horário de verão), 25°C e a despedida da companheira de viagem, a simpática Aline.
Check-in no hotel, 4 estrelas e se preparar para uma semana bem... "arretada".
Domingo
Café da manhã de hotel e espera pelo ônibus, em ritmo baiano, até a Praia do Flamengo. Mais de meia hora rodando na cidade (marcada pela verticalização - com sobrados de até quatro andares estreitos - mas ainda com clima de interior). Parece mesmo uma cidade grande de capital, com ares de interior. Muitos prédios e viadutos! Salvador é tão grande e populosa que tem até metrô, em construção há anos.
O ar quente das correntes oceânicas está em toda cidade. Por isso, em todos os ambientes fechados há ar condicionado... (Mas nos ônibus de linha - que custam R$1,70 - não há!).
Na praia, abarrotada de carros, foi difícil o ônibus conseguir parar para as 23 pessoas do grupo descerem. A Praia do Flamengo é linda! Ondas fortes, água esmeralda, com alguns corais cheios de algas, areia fina e fofa, lotada de quiosques, mesas com guarda-sóis na areia e gente, gente, gente!! As gentes preferem mesmo a água, bastante refrescante, deliciosa! A mais de todas as praias até agora (só perde em beleza para a Prainha Branca).
Ainda não quis arriscar muito na comida. pedi só um peixinho com a famosa pimenta baiana - é FORTE - empata com os japaleños da comida mexicana!!
Voltamos para o hotel, às 16h (local), para descansar um pouco - as ondas da praia cansam - antes do jantar (fora do hotel) e da noite dançante, com Beto Jamaica (!). No final, nem fomos porque os idosos, cansados, fizeram-nos desanimar. Mas nós, o grupinho dos mais animados (uns 6) queríamos fazer uma coisa qualquer, dar uma rodada mesmo que pertinho. Rodamos a pé por perto do hotel à procura de um tal Twist Pub, em que teria um piano bar. Esse bar, conforme o guia online indicava, ficaria no mesmo quarterão da nossa hospedagem; então seria fácil, mesmo não conhecendo a cidade. Achamos uma "coisa de coisar", como descreveu, sem jeito, o rapaz pobre sentado à frente da casa toda apagada... Quase entramos por engano no prostíbulo à procura do tal piano bar. Às onze horas a pé pela parte pobre de um bairro bom de Salvador, encontramos um tempo bem agradável e os lugares - dos decentes - quase todos fechados. Entre as reclamações de uma idosa gorda que se pôs a andar conosco, achamos uma pastelaria de esquina para beber uma latinha de cerveja. Que balada! Tsc, tsc...
Voltando ao hotel nos deparamos com uma praça semi-abandonada e só ouvi os gritos: uma reboada de ratos corriam de volta para suas tocas ao ouvir os gritos das mulheres com medo deles. Uma aventura!
De volta ao hotel, o pequeno grupo, já mais animado pela experiência com os roedores-monstros, ainda pediu caipirinhas no lobby que tinha um bom bar... e um... piano! Era no próprio hotel o lugar a que eu tentara guiar-nos! O pub com piano! Depois dessa fui zoado até quase o fim da viagem...
Segunda
Dia cheio. City tour com um baiano bem conhecedor.Pelourinho (com almoço n'O Coliseu e servete no Cubana - ambos altamente recomendáveis, visitas ao Farol da Barra (o divisor de águas entre a Baía de Todos os Santos e o Oceano Atrlântico); o Dique do Tororó (da canção infantil); Elevador Lacerda (como assim ele NÃO É PANORÂMICO???), que liga a cidade alta ($) à cidade baixa (dos trabalhadores); e especialmente a Igreja de São Francisco, que eu - que detesto igrejas - fiquei abismado de como pode ser tão bonito e fútil, já que podiam usar todo aquele ouro em prol do povo.
Presenciamos um mini-ensaio de bateria de um grupo de jovens, além de tentarmos comprar, sem sucesso, ingressos para o ensaio do Olodum, que seria na noite seguinte. Mais à noite, tentando de novo sem sucesso comprar os ingressos andamos no Pelô à noite e é lindo! Vimos um grupo apresentando sua coreografia e batuque à Olodum além de, sob o comando do nosso líder doido Wellington pusemos 5 no banco de trás de um táxi Gol antigo!! Minha mãe jogada no colo dos outros quatro foi hilário!!
Terça
Esse foi o dia em que mais senti "culpa" de estar no lugar do meu pai: uma praia lindíssima, pagodaxé na escuna (na ida E na volta - aaaargh!), comida típica num restaurante ótimo e o tão esperado show do Olodum - para o qual conseguimos ingressos em cima da hora!! Enfim, tudo que meu pai iria adorar.
Novos membros entraram para a dita "família" da viagem. Entre eles um padre e uma italiana. (Eu sei, parece começo de piada... "Um padre, uma italiana e um blogueiro estavam numa escursão em Salvador. Aí...")
Ônibus até o pier, um amontoado de gente tentando se organizar até a entrada na escuna. Sob sol escaldante totalizamos 97 numa embarcação com guia, cameraman e barman, apesar de pobrezinha. O sambaxé animou o povo, bonito (sim, porque povo bonito, ali, só turinta mesmo - exceto as crianças baianas, que são bonitinhas).
Uma hora e meia de barco até a Ilha dos Frades. Demais!!!! Praia curta, de água bastante salgada e límpida, sem ondas: a melhor praia da minha vida!!!!!! (Embora, em beleza - e só em beleza - a Prainha Branca seja melhor). Duas horas lá (só!?!?!?) e rumamos por mais meia hora de barco até a famos Ilha de Itaparica, "a maior ilha dentro de uma baía no Brasil", e famosa só por isso - a única coisa que fizemos lá foi comer... Fiquei com a impressão de que não tinha mais nada lá (o que não é verdade, já que na ilha há 3 municípios!)
Voltamos com o pô do sol e o pagodão quando muitos tentavam dormir... (Deus abeçõe Os Paralamas pelas boas músicas e a Sony pelos bons aparelhos eletrônicos!). Ao chegar, correr para o banho no hotel e de volta para o ônibus. Andar e abrir caminho pelo Pelô para poder pegar o ingresso para o Olodum - agora sim! - e comer no Senac/Sesc de Salvador - comida típica baiana mundialmente reconhecida e premiada!... Umas coisas tão estranhas que muitas nem dá vontade de comer ("Xixim de galinha" não parece me sugerir coisas boas já do título). Depois de um bom quindim, o batuque repicante e bem pomposo do Olodum. Demais!! Agora posso dizer que fui à Bahia.
As italianas piradas, a moçada enlouquecida, tentativas de coreografia impedidas, por um espaço tão pequeno. Abarrotadas, as pessoas dançavam sob as luzes de balada ao som dos quinze integrantes (só?? só!), entre eles a famosa (?!) Margareth Menezes. Mas o show mesmo são dos 2 negões (com pingentes multicor nos cabelos) e suas coreografias extasiantes! Demais mesmo!! Amei!!
Na volta, escoltar o povo de volta ao hotel (pois é... o Wellington - guia - furou conosco e a responsa de guiar as dez pessoas que foram pelo Pelourinho a caminho dos táxis no centro foi deste que escreve. Claro que eu adorei porque eu curto mesmo dar uma de guia. Exausto, banho e cama, que amanhã é dia de tour pelo Recôncavo Baiano.
Como fizemos coisa num mesmo dia!
Quarta
Apesar de termos rodado muito, não fizemos tanta coisa. De manhã fomos a Santo Amaro da Purificação, a mais ou menos 60km de Salvador. A Purificação do nome não era espiritual não! Era da cachaça mais pura que tinha lá.... Gostei disso.... Hhehehe..
Lá, conhecemos a igreja (mais uma) e a praça central. Pessoas quiseram conhecer a Dna. Canô (mãe de Caetano e Maria Bethânia) quando era só para passarmos. Eu, cansado e com sono, não estava com muito saco. Deixa a velha de 99 anos em paz!! Depois de mais 80km pela estrada ouvindo o guia especializado e vendo as bonitas planícies até chegarmos a Cachoeira e sua vizinha, São Félix, onde conhecemos a linha de montagem dos charutos Dannemann - a mais importante do país, cujo produto até o Fidel dissera ser equivalente aos de Cuba - onde havia uma exposição de arte contemporânea e um projeto de reflorestamento. Lá, ainda vimos a ponte de fero trazida de Londres sobre o Rio Paraguassu, a bonita vista de um morro - o melhor para tirar fotos - e mais a primeira isso e a maior aquilo...
Almoço na Pousada do Convento: um peixe maravilhoso! Passar no mercado de lá para comprar castanhas para o meu pai (niver dele hoje e ele devia estar aqui...).
Ônibus de volta: meu sono vs. empolgação alheia; karaokê no microfone do ônibus vs. Kraftwerk no mp3 player... Que ódio!!
Mas passou. E chegamos e eu consegui Internet e o hotel tava tocando jazzy songs (e "Lady Madonnaaaaaa"!!!). Noite, piscina, contar minha vida para o Bruno - o guia-mirim, alegria da "família" -, banho, jantar e uma recusa de um show do Terra Samba (porque uma noite com axé já é mais que suficiente para um semestre... ou um ano...).
Quinta
Passamos pela linda orla da Grande Salvador vimos as praias e as histórias de Amaralina (do negro escravo e da partida de Alina), Praia dos Namorados (antiga fábrica de gente da cidade), Plakafor (por causa de um outdoor da Ford) , Praia dos Artistas (a praia mais "feliz"), Lagoa do Abaeté (do "homem forte" e da sensual índia apaixonada que o arrastou pra dentro) - de areias brancas e águas negras - vimos a casa de Caetano e a de Bethania...
Já em Camaçari, no bairro de Arembepe, vimos uma aldeia hippie à beira da Praia de Arembepe - A MAIS LINDA EVER DA MINHA VIDA!!!!!! Absolutamente deserta, areia fofa grossa, águas quentes em um mar raso, pisando em pedras escorregadias, como num recife de corais, peixinhos pequenos visíveis pela água transparente; coqueiros ao longo de toda a praia - de sumir numa curva à direitaaté um pequeno pier à esquerda, lá longe. *suspiro* Um Paraíso!!!
De lá, a Praia do Forte e o Projeto Tamar (tão bonitinhas as tartarugas marinhas!), lugar que rendeu umas boas fotos.
Depois de rodar, a Praia de Guarajuba, maravilhosa, em que almocei pestiscos e um acarajé (pesaaaaaaaaaado esse "hamburguer de baiano").
Na volta do ônibus, houve um shoe de piadas dos próprios viajantes e o melhor foi o Frei Edson (um frei de verdade!) contando piadas religiosas!! =) Já à noite, depois de uma viagem como de SP ao Guarujá, voltamos ao hotel para muita farra na piscina (eu, Bruninho, Van, Edson Malinha, Rafael - o Agressivo -, e o Frei Edson)... Demos caldo até no Frei!! Super forte e brincalhão ele!
Jantamos uma ótima comida com alguns pratos típicos (carne de sol na brasa - uma delícia!) no premiado A Porteira.
E chega! Nem consegui escrever na mesma noite, de tantas peripécias!
Sexta
Dia de compras. Duas horas (e meia, contando os desencontros) no Mercado Modelo, o Mercadão de Salvador. Camiseta para um, brinco para a outra, aquela tia, a avó, e volta, e vai, e desce, e sobe e a pimenta!!, que merece um capítulo próprio.
A pimenta
– Boa tarde! Moço, me vê "aquela" pimenta? A "pimenta baiana".
– A boa?
– De levantar até o santo!
– É essa daqui, com um tempero especial, toda trabalhada. É bem saborosa. Essa é R$10 o vidro. Quer provar um bocadinho?
– Ai, não! – sofreu minha mãe, interferindo na minha compra.
– Tome, prove num camarão! Até eu vou comer também.
Molhou o crustáceo no vidro e me deu. Antes de provar, tremi:
– Tem água aí, qualquer coisa?
Ele sorriu e afirmou. Comi. Era boazinha, mas longe da que eu provara no primeiro dia, na praia. Até esperei. Ardidinha, mas nada excitante. Reclamei. Por quem ele me tomava?
– Não é essa não, rapaz.
O dono da banca interveio na venda do atendente:
– Olhe, prove essa aqui – disse molhando um camarão num líquido vinho de um frasco fino e pequeno.
Mordi com gosto... Era boazinha... Esquentava com o decorrer do tempo... Pegava firme na língua... no céu da boca... nos lábios... Ai... na garganta... Olhei para minha mãe já quase chorando... Ai! O ar parecia não refrescar. Olhei para o vendedor:
– Tem água?
Tomei. Geladinha. Virei para o dono:
– Deus abençoe a água! É dessa mesmo!
– Pega pra ele o extrato. Essa é sete reais.
– Veja dois - disse eu, quase tossindo.
Ele embalava os dois vidros. Paguei, quase vermelho, quase chorando. Saí da loja agradecendo o atendimento:
– Valeu! Boas vendas! E ó... Quando um gringo vier pedir a pimenta, mostra a de dez reais primeiro. Essa daí o cara não agüenta.
Acabei com a água em um minuto e meio e não bastou. Ao fechar os olhos, apoiara a mão neles. De repente, TODO o meu rosto ardia e eu não consegui nem responder às perguntas de minha mãe sobre qual o melhor pano de prato...
Depois de passar o ardor na boca, o rosto todo ficou latejando até mais de 40 minutos.
Dois vidros é pimenta até o próximo retorno à terra do axé!
Ainda nesse mesmo dia teve o episódio da Reza da Baiana...
Reza da baiana
Toda vestida como no carnaval, uma baiana me pegou pela mão e me ofereceu uma reza. Falou que não era nada, era de graça. Aceitei. Me benzeu, mão pra lá, palavra pra cá e reza daqui e reza de lá, numa cadência quase difíil de decifrar. "Pegue essas pedrinhas", ela disse. Peguei. "Feche bem a mão". O fiz. "Já é casado? Qual o nome da tua pessoa especial?" Eu disse. "Filho, você e ela vão ser muito felizes e ela vai te dar dois lindos bebês. Agora pense bastante nela" e continuou a reza. "Guarde as duas pedrinhas que, com elas, vocês dois vão estar protegidos". Ao final, ela pediu uma ajuda. Eu neguei. "De cá, nem olhe a nota, pegue uma do bolsa e de cá pra baiana". Olhei para minha mãe. Ambos sabíamos que eu estava só com notas de vinte no bolso. "Não pode ser do dinheiro dela não. Tem que ser do seu." Hummmm.... Deixa eu pensar... "Dê cá, não vou pegar, é só pra abeçoar o dinheiro. Sou velha e sou de boa família, não vou sair correndo com seu dinheiro, moço". Tirei a nota de vinte e deixei bem fechada na mão.
– Abra a mão, moço. É pra abençoar.
– Pode abençoar assim fechada.
– Vamos, moço. Não estrague a reza.
– Eu não vou te dar. Não vou.
Ela se revoltou!
– Ah, então, dê cá minha reza de volta!!
Entreguei-lhe bravo:
– Toma! Pode guardar.
– Isso... Que povinho mais dif...
E saiu reclamando, me deixando puto e minha mãe abismada.
Depois disso tudo, voltamos ao hotel. Como já eram umas 15h, sem almoçar, não estávamos com vontade de aproveitar a tarde livre que tínhamos. Resolvemos eu e minha mãe ir caminhar até uma lanchonete próxima. Claro que eu fiz questão de, depois de taaaanta comida típica, provar um McDonalds, só pra ver se tinha o mesmo gosto. Como previsto, não tinha. Era com um pouco menos de gosto, assim como a Coca-cola. Exatamente como eu suspeitava, já que no Rio Grande do Sul ela era mais forte.
Aí, piscina até à noitinha, jantar no hotel e ir dormir, porque o vôo saía quatro e meia da manhã.
Um cochilo e já ligaram no quarto para sairmos. No aeroporto ainda deu tempo de comprar um DVD do Olodum de presente de aniversário para o meu pai.
A volta foi tranqüila. Do avião, como o dia estava nascendo, deu pra ver grande parte da costa brasileira na volta até São Paulo.Muito lindas as praias vistas de cima. Me senti no Google Earth. As nuvens de algodão taparam pedaços da vista lá pela metade. Já aqui na cidade, vimos o Parque do Ibirapuera, a Bandeirantes, bem legal!!
Adorei voltar a andar de avião. E amei a viagem. As praias fizeram valer a pena. E a gente sempre acaba conhecendo gentes e gentes.
Uma experiência divertida, que talvez o meu pai não tivesse gostado tanto exatamente pelo grupo.
Sorte minha.
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