segunda-feira, 31 de julho de 2006


Símbolo de Copa

      E numa mesa de botequim dum subúrbio carioca, bebendo cerveja:
      - Ô, amigo Castro, chega mais. Assente-se. Novidades?
      - Ó pá, pura bruma. Pois?
      - Olhe que de minha parte nada também. Mas do nosso amigo, viu? Fiquei sabendo que ele tem se dado bastante mal. Se dar bem, só em Copa, minha praia! Pois é! Foi ver um espetáculo, um coral no Municipal, coisa fina; quando chegou já tinham esgotado as entradas... - e ri.
      - Ah, mas tal indigna sombra!
      - Pois é, e estava acompanhado! Estava com uma pequena e passou por uns maus, viu? Olhe, Castro, não há vergonha igual para um homem. Erro de planejamento. Pior que isto, só não ter para pagar-lhe o jantar... - bebe um gole - Ou o motel... - sorri.
      A vitrola rodava um samba antigo desafinadamente. A tarde ia dando lugar a uma noite com cara de chuva, ainda que muito quente.
      - E depois ainda não foi ao tango? E ouvi que pisadelas não faltaram, o bruto. Quase pontapés! Mas não tem jeito, amigo Castro, não tem jeito... Bom mesmo, só em Copa! Se não, maçada.
      - Foi à dança acompanhado? São amigas do trabalho!
      - Amigas! Qual! Eu bem tenho minhas amigas lá na Lapa! - e ri.
      - Ora, não fales assim. Tão distintas as raparigas!
      - Pois é delas mesmo que falo! Hahaha...
      - Mas se são amigas, gajo! Tu não tens amigas?
      - O, Castro, você vê tudo com névoas! Seja mais realista, homem.
      - Deixa o amigo que inda lhe é verde o coração. Um dia saberá mirar a clepsidra. E bem compreender a vida.
      - Ah, tolices...! Depois do tango ainda foi a um show, desses modernos; e, claro, acompanhado, com duas.
      - Vejo-te na Natureza inveja.
      - Qual inveja! Só descrevo os fatos, como um bom jornalista.
      - De anoitado intelecto, isto que é!
      - Não bebes, Castro?
      E bebe mais um gole da cerveja. E mal consegue dizer em meio ao riso:
      - Ah... E depois o asno... Ele ficou com a morena... até o nascer do dia, esperando... esperando o coletivo passar...! E no outro dia foi ainda pior! Ia ao cine... Ia com com esta mais a do teatro e adivinha... adivinha só!
      - Não o sei. Acabaram-se as entradas?
      - Batata!
      E riu um riso sarcástico. E continuou:
      - E ainda fez as pequenas se molharem da chuva! Hahaha!
      - É, o arrependimento é uma ponte sem volta... Mas deixe-o lá quieto...
      - Haja rapaz mais incompetente que nosso amigo, hein!
      - Cesse essa expressão! Suas intenções são, aposto, as melhores; os mares lhe devem ser de infortúnios. É só isso, só; e ponto final.
      - Pois quer coisa chique e falta-lhe a fortuna!
      - Esta tua ironia clássica... Isto é que não é pra mim!
      - Ora, Castro, bebe um gole, joga uma rodada. Não entra num pife, num carteado qualquer? Mão de poeta diz que é boa pro jogo.
      - Vou é voltar aos meus versos! Que tu tudo vês com maus e frios olhos! Aposto que a ópera não foi trágica! E que acabou tudo bem. Mas cada um c'os olhos que merece. E não te antecipes... Falar, sem olhar... Te faz por demais sangüíneo.
      - E você, Castro, por demais doce e às vezes melancólico. Mas é isso que gosto em você... E deve fazer sucesso entre as... entre as fêmeas...
      - E tu sempre a pensar nisto! Volto aos versos! Já é noite alta e não quero me iludir. Não com esta margem do rio. Volto enquanto há areia a correr. Depois, vais ver, não há volta. Passar bem e obrigado!
      Castro se levanta.
      - Você que está certo, Castro. Você é que está certo...
      Vira o copo e diz:
      - Tudo é questão de... "tacto"... Ê, Castro! Só em Copa...! Fecha aqui, garçõ!

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