sábado, 1 de janeiro de 2005

Nossa festa, nossa comida

Ultimamente não me lembro de ter uma festa de Natal que eu realmente tenha gostado. Quando criança não, era bem diferente. Costumava ser na casa da minha avó e minha tia fazia empadas sem recheio e se vestia de Papai Noel, identidade que logo desmascarei. Era uma época da comida boa e muita, época da aguardada entrega de presentes, de felicidades, abraços e confraternização.

De uns tempos pra cá, tudo foi mudando. Minha visão da festa foi mudando. Passei a enxergar injustiças, crises, a desenvolver senso crítico e achar motivos para não se comemorar. "É uma época para perdoar, para esquecer as diferenças", nos bombardeiam os filmes, músicas e pessoas próximas. Pra mim era só uma época em que já tiveramos muito o que se comemorar mas que não passava de pura tradição sem sentido, que foi conservada, mesmo que seu real intento não fosse mais aplicado no nosso dia-a-dia. A época de paz, de solidariedade agora tinha data marcada. E vinha com a asia da hipocrisia materializada na comida.

Muito disso ainda hoje vejo assim. Mas neste ano algo realmente mudou pra mim. O que é diferente esse ano é que estamos crescendo. Eu, na faculdade e trabalhando, meu irmão saiu do trabalho pra estudar integralmente pro vestibular, e minha irmã, além de encarar o vestibular pela primeira vez pra valer, também teve seu dia de "população economicamente ativa" também pela primeira vez, trabalhando numa loja de shopping. Todos estão crescendo. E isso se refletiu no dia 24, com os preparativos para a comilança anual. Pode parecer bobagem, mas isso diz muita coisa da nossa relação.

Todos os quatro temos agendas tão distantes e distintas que é raro nos encontrarmos para uma refeição. Desta vez, não só estávamos juntos para a refeição, como estivemos na cozinha ao mesmo tempo, cantando, provando e fazendo piadinhas que fazem minha mãe chorar de rir. Cada um dando o seu toque pessoal àquela comida toda e isso é mais festa pra mim do que a entrega de presentes.

Uma discussão recente com meu pai me fez ver que de fato eu sou o membro que é mais distante da família. Mas foi muito divertido ter cozinhado com meus irmãos para receber meu tio, minha avó e minha tia, que não se vestiu de Papai Noel, mas cujas empadas ficaram por conta de terceiros (e nossos estômagos agradecem).

Fizemos uma festa nossa, com uma comida nossa, com a nossa cara, com nossas emoções, frustrações, esperanças e união. A asia do dia seguinte ainda segue inevitável, mas desta vez foi pela quantidade, não pela qualidade da nossa festa.

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