Cuida do carro
     Era um domingo, como tantos outros. Apesar do tempo fechado, Boni se preparava para ir à academia do clube fazer seus exercícios dominicais. Carteirinha do clube, carteirinha da academia, celular, chaves do armário, chaves do carro, tudo checado.
     No caminho lembrara-se que era necessária uma passada pela feira de domingo, em frente ao antigo colégio de seus filhos. Encostou o carro. Não tendo bolsos, pegou a carteira na mão e teve que deixar o celular. Não demoraria.
     Um rapaz, não muito mais que um garoto, aproximou-se:
     – Aí, tio, deixa eu cuidar do carro?
     Maldizendo a raça de garotos que cobram aluguel numa via pública, respondeu:
     – Não, não. Não precisa não.
     A feira estava quase vazia, devido ao tempo, que agora ameaçava chover. Laranjas, bananas, maçãs, cenouras, mamões, tomates, morangos...
     Sacolas cheias, mãos sem espaço, voltava ao veículo. Deixaria as sacolas em casa e talvez não fosse mais à academia, afinal, o tempo não era animador.
     De longe avistou o carro. Piscavam os faróis, bradava o alarme. O vidro da janela em cacos, estilhaçado por sobre o banco do passageiro. O toca-fitas estava no mesmo lugar onde fora deixado. O celular não estava.
     Nenhum garoto cuidava do carro.
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