quinta-feira, 5 de setembro de 2002

"É muito fácil falar de coisas tão belas,
de frente pro mar, mas de costas pra favela..."


Ontem assisti ao Cidade de Deus de um felicíssimo cidadão chamado Fernando Meirelles. Anotem esse nome.

O filme precisaria de um blog só pra ele, para ser comentado em cada detalhe. Apesar de não mais acreditar muito no Oscar, é filme para Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia, Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado (do livro homônino de Paulo Lins).

Se tivesse sido o Cidade de Deus concorrente de A Vida É Bela ao invés do Central do Brasil no prêmio de Filme Estrangeiro, teríamos levado fácil.

É um excelente retrato da realidade social brasileira. E não só pela favela, violência e tráfico, mas como análise comportamental do ser humano.

O roteiro por vezes lembra mesmo Jackie Brown, como já me tivera dito meu irmão. A clareza dos fatos, os pontos de vista de vários ângulos e as idas e voltas da narrativa fazem-se presentes indicando Quentin Tarantino como grande inspiração.

A edição precisa arrepia. Como na história dos apês, onde a câmera fica fixa, dando uma visão geral do apê em questão por longos segundos enquanto o narrador vai contando a história e tudo vai acontecendo com as personagens indo e vindo em "fades". A direção e a fotografia, com iluminações perfeitas, criando climas de grande tensão, aliados ao zoom da câmera e handcams dão a exata impressão de que o espectador está no filme, participando dos eventos.

Mateus Nachtergaele, grande representante do melhor da interpretação atual no Brasil, não aparece tanto quanto deveria, mas nada que o resto do elenco iniciante, mas eficiente não tenha feito. Como exemplo, a atuação e narração exímias de Alexandre Rodrigues, interpretando aaBuscapé.
(Fora a presença de colírio pessoal de Graziella Moretto.)

Enfim, motivos não faltam para ir ver o filme. E há muitos outros, que não foram mencionados aqui para não acabar com a surpresa do espectador.

Congratulações a Fernando Meirelles e a todos aqueles que acreditam no cinema nacional. É com resultados como esses que nos orgulhamos do nosso produto cinematográfico e vamos aos poucos fazendo cair o preconceito de "ah, é filme brasileiro... não tem outro?".

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