É aquele papo, filme vai, filme vem... 31ª Mostra e tal... Tarantino foda, El orfanato foda, uns mais ou menos, outros menos... Mas, depois de tanto tempo no mudo, resolvi falar...
Nome próprio
Pois é. De novo, to apaixonado... Não fiz uma música porque ela não saiu. Virou texto. Esse. Às vezes é preciso fazer as coisas virarem textos.
Minha paixão antiga tava linda hoje. Não olhei tanto pra criatura. Olhei mais pra criadora: Clarah. O tal do Nome próprio nem é tão bom.. É meio cansativo, repetitivo e deixa as pessoas "chapadas" na tela, "tudo no mesmo plano", diria meu professor de Literatura e Cinema. Conflitos sociais não aparecem. Não explicitamente. O mote é o indivíduo, e nem por isso o filme tem uma perspectiva egocêntrica. (Ou tem e sou eu que não vejo porque me identifico demais?) Crítica às favas, me peguei pensando; e não é isso que um filme tem que fazer?
O que de fato me chamou a atenção é que esse filme me fez sentir. Me fez sentir o que eu senti quando li o Máquina de Pinball, da mesma Clarah Averbuck, a "Brasileira!Preta". Senti uma imensidão vazia, que é cheia de vida; "um meio de transporte pra quem tem coração cheio".
Fico aqui tentanto definir uma coisa meio indefinível. Sou fã da Clarah. Tenho o livro autografado: um pedaço de papel rabiscado com um nome. So what? Não, isso não é ser fã. Eu sempre soube e ela me ensinou a me ensinar de novo. Sou fã da VIDA dela, da vida desregrada, sem amanhã, sem ontem, só hoje. – É um Cazuza não-burguês e sem AIDS... e mulher... É, não tem nada a ver. – Sou fã porque minha vida não é assim, minha vida é de "Oi, tudo bem? Dúvida? Sim, Gramática, Literatura, Redação. Olha, tenta refazer e traz a nova junto da antiga pra gente comparar... De nada... Bons estudos... Volte sempre...". E o pior é que às vezes eu gosto, mas reconheço que pode ser estupidificante se a gente não conseguir pôr o que somos de verdade, de carne e osso e alma, no trabalho. Acho que gosto dela porque ela faz o que gosta, minto, faz o que ama. Sou fã disso, da postura, dela.
Esse é o mundo em que vivemos. Do tal do dinamismo, modernidade e esse caralho. Nos faz ter ídolos que são o que não somos. Mesmo que se fodam por não terem dinheiro, não terem bem onde dormir, são fodas mesmo assim. Têm amigos, mesmo que esses os traiam depois, têm amor pelas coisas, pelas pessoas, pela vida. Intensamente hoje. Eu a vi e me vi na tela. "Não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm". Apaixono por todas elas: Clarah, Camila e Leandra. Lindas. Paula também. E todos que se metem nos seus caminhos. Sinto falta de amar as coisas; de me ler nos livros, de me ouvir nas músicas. Por isso escrevo eu mesmo, quando me falta o eu no que vivo. E me sinto mais inteligente - e até capaz de escrever coisas inteligentes - depois de sentir a presença dela(s). Mas, ao mesmo tempo, não.
No fundo, acabo que sou como o nerdzinho metido a entedido de cultura que cresceu regado à superficialidade de tudo-à-mão e de filme pornô, mas que não sabe tratar direito uma mulher e paga um pau pra uma mina que tem uma vida que nunca vai ser a dele porque nerdzinhos metidos a entendidos de cultura só podem ter vidas regradas e dependentes do dinheiro, sem nunca saber o que é amor, quando muito só sexo.
Quem acreditaria que esse sou eu?
Escrevi isso, já é algum avanço. (Talvez não.) Nem fiquei excitado (conforme o padrão de estímulo-reação do gênero masculino) ao ver o corpo da Leandra/Camila. Isso é mais avanço. Mas só isso não é aquilo.
Eu? Só queria um pouco de vida. Ou de paixão, que dá no mesmo.
Enquanto não, sigo à busca de um Nome Próprio, algo meu, seja Compositor, Cineasta, Escritor, Amigo, Fuck Bud, Poeta, Namorado, Plantonista de Português ou Raphael. Só não pode ser Clarah, Camila ou Leandra. Esses já têm Pessoas. E me apaixono, pelas três e por tudo, sem nunca amar.
Talvez esse seja o erro.